Opinião

Seria Greg Hardy o “Charles Haley” que o Cowboys precisava?

Certamente você, leitor, deve estar estranhando o título da matéria. Afinal, como Charles Haley, um dos maiores jogadores da história do Dallas Cowboys, único jogador da história da NFL a ganhar por cinco vezes o Super Bowl e recém eleito para o Hall da Fama pode ser comparado com um jogador que não tem cinco anos de carreira profissional?

Por esse ponto de vista, a discussão não existe. Hardy está apenas em seu começo na liga e, com exceção da franchise tag em 2014, assinou apenas seu segundo contrato como profissional.

O ponto de vista, entretanto, não é esse. E o que você verá a seguir mostra que a semelhança entre Hardy e Haley vão muito mais além que as primeiras letras do sobrenome.

 

Começo avassalador

Vindo da universidade de Madison, Charles Haley foi escolhido em um mid round no draft de 1986 pelo San Francisco 49ers. Mesmo tendo sido titular em apenas três jogos nos seus dois primeiros anos na liga, Haley acumulou nos primeiros quatro anos de carreira a incrível marca de 40,5 sacks em 60 jogos, cerca de 2 sacks a cada três partidas. Além disso, o defensive end/outside linebacker forçou 9 fumbles e 1 safety nesse mesmo período. Com 11,5 sacks na temporada de 1988, Haley foi recompensado com sua primeira ida ao Pro Bowl na sua carreira.

24 anos depois de Haley ter sido draftado, foi a vez de Greg Hardy passar pelo mesmo processo. Depois de jogar pela universidade de Ole Miss, Hardy foi escolhido em um late round no draft de 2010 pelo Carolina Panthers. Ao contrário de Haley, as duas primeiras temporadas de Hardy foram bem tímidas. No entanto, Hardy terminou seu quarto ano na NFL com 33 sacks em 62 jogos, uma média um pouco acima de 1 sack a cada duas partidas, além de 6 fumbles forçados e 2 safeties. Com seus 15 sacks na temporada de 2013, recorde histórico do Panthers, Hardy foi eleito para o Pro Bowl pela primeira vez.

 

Problemas extra-campo
Hardy (direita) comparece ao tribunal. Foto:
Hardy (direita) comparece ao tribunal. Foto: Chuck Burton / AP Photo

Terminando seu contrato de calouro, Hardy recebeu a franchise tag do Carolina Panthers para permanecer para a temporada de 2014. O defensive end, entretanto, jogou apenas uma partida antes de ser afastado por conta de uma suposta agressão a sua namorada. Colocado na commisioner’s exempt list, Hardy acabou não tendo mais nenhuma oportunidade de jogar novamente pelo Panthers, sendo dispensado ao fim da temporada. Sem contrato, o Cowboys foi o único time que demonstrou real interesse no jogador.

Com Charles Haley foi um pouco diferente. Polêmico, o jogador (que após a carreira foi diagnosticado com transtorno bipolar) não era bem visto no vestiário. Como um legítimo “bullying“, Haley humilhava os companheiros de equipe do qual não gostava. Depois de uma briga com o quarterback Steve Young, estrela do time, após uma derrota para o Oakland Raiders, e por ter urinado dentro do carro de um companheiro de equipe (sim, isso realmente aconteceu), o 49ers queria se livrar da “maçã podre” que havia em seu elenco. Com o Cowboys interessado, o time de San Francisco não pensou duas vezes em despachar o jogador para Dallas em uma troca.

 

A situação do Dallas Cowboys
Em 1991, o time finalmente voltou aos playoffs. Foto: John Swart / AP Photo
Em 1991, o time finalmente voltou aos playoffs. Foto: John Swart / AP Photo

Quando o Dallas Cowboys contratou Charles Haley, o time estava em uma fase de reconstrução do elenco. Em 1989, Jerry Jones comprou a franquia e trocou o lendário técnico Tom Landry por Jimmy Johnson. Apesar do início péssimo, Johnson começou um processo de reconstrução da equipe, aproveitando alguns jogadores do atual elenco (como o WR Michael Irvin, escolhido no draft um ano antes de sua chegada) e trazendo outros jogadores importantes ao longo dos anos, como o center Mark Stepnoski, o offensive tackle Erik Williams, o defensive tackle Russell Maryland e principalmente o running back Emmitt Smith e o quarterback Troy Aikman.

Em 1991, o Dallas Cowboys terminou a temporada com um recorde positivo e ganhando a divisão pela primeira vez na década. Terminando 11-5, o time ainda teve de contar com seu quarterback reserva em alguns jogos por conta de uma lesão de Troy Aikman. Nos playoffs, vitória sobre o Chicago Bears no wild card e derrota no divisional para o Detroit Lions. O time que não chegava a pós-temporada desde 1985 estava finalmente de volta.

Voltando para a atualidade, as coincidências começam a aparecer. Efetivado como head coach em 2011, Jason Garrett também começou uma reformulação na equipe. Aproveitando Dez Bryant (que por acaso também é um wide receiver e também usa a 88) e outros jogadores, Garrett também trouxe bons jogadores ao longo dos anos, como o center Travis Frederick, o offensive tackle Tyron Smith, o defensive end DeMarcus Lawrence e principalmente o offensive guard Zack Martin e o running back DeMarco Murray.

Assim como em 1991, o Dallas Cowboys de 2014 terminou a temporada com um recorde positivo e ganhando a divisão pela primeira vez na década. Com um recorde de 12-4, o time precisou usar seu quarterback reserva, Brandon Weeden, em alguns jogos por conta de uma lesão em Tony Romo. Na pós-temporada, o time de 2014, coincidentemente, também enfrentou dois times da NFC North. Vencendo o Detroit Lions no wild card, o Dallas Cowboys foi eliminado na rodada seguinte, dessa vez pelo Green Bay Packers.

 

Futuro
Haley (direita) mudou a cara da linha defensiva do time. Foto: TheBoysAreBack.wordpress.com

Tendo apenas 23 sacks na temporada de 1991, o Dallas Cowboys de 1992 ressurgiu com a chegada de Charles Haley. Mesmo com apenas seis sacks do jogador, o time terminou a temporada regular com 44 sacks, fazendo uma das piores linhas defensivas se tornar uma das mais temidas em apenas um ano. Nos playoffs, a defesa forçou seis turnovers em dois jogos e nove no Super Bowl, recorde que perdura até hoje. Liderado por Charles Haley, a defesa lesionou o hoje membro do Hall da Fama Jim Kelly, quarterback do Buffalo Bills.

Em 2013, a linha defensiva foi certamente o ponto fraco da equipe. Comparando com 1991, o número de sacks foi ligeiramente maior: 27 no total. Apesar de não ter o temperamento explosivo de Haley, Hardy vem para suprir a posição mais carente do time desde a saída de DeMarcus Ware.

 

Considerações finais

Apesar de diversas similaridades, é impossível prever o desempenho de Greg Hardy no Dallas Cowboys em 2015. Ao contrário de Haley, Hardy vem por apenas um ano de contrato e ainda corre o risco de ser suspenso por alguns jogos da temporada.

Hardy, entretanto, chega em Dallas para ter a mesma função que Charles Haley. Um jogador que apesar de novo, acrescenta muito à linha e junto com a experiência de um veterano como Jeremy Mincey (assim como Jim Jeffcoat foi na época de Haley) para ajudar os jogadores mais jovens pode transformar a então fraca linha defensiva em um dos pilares do time para 2015.

Se o Dallas Cowboys de 2015 começará uma nova dinastia, onde ganhará três Super Bowls em quatro anos e consolidará mais uma vez a franquia como “O Time da América”? É muito provável que o tempo responda a essa pergunta com um não. O primeiro passo, ao menos, foi igual.

Gabriel Plat

Curte NFL por escolha e o Dallas Cowboys por amor. Aprecia a boa música e compartilha outro sofrimento: o Botafogo. Um dos participantes do podcast.

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