Opinião

Seja muito bem-vindo Mike McCarthy

Meus caros. Gostem ou não, Mike McCarthy é o novo head coach do Dallas Cowboys. Hoje, ele firmou um contrato de cinco anos com a organização e está de malas prontas para o Texas.

A primeira reação geral não foi de grande entusiasmo. Muitos esperavam um processo mais demorado de escolha, certamente com mais candidatos entrevistados e quem sabe um nome vindo do College ou entre aqueles que supostamente representam um futebol mais moderno.

Quando gravamos o podcast, o nome de McCarthy sequer foi lembrado. Falamos em Urban Meyer, Lincoln Riley, Greg Roman, Josh McDaniels e outros.

No dia seguinte, até agora não sei a razão, lancei o nome de McCarthy no grupo de whattsapp dos assinantes, questionando a hipótese de sua escolha. Não recordo de uma única reposta positiva.

Quando ele foi anunciado ontem, a reação também foi mais para decepção do que alegria. Todos estavam satisfeitos com a saída de Jason Garrett e acreditam que McCarthy é melhor que ele. Todavia, muitos esperavam outros nomes.

Antes de mais nada, lhes digo que ele não era o meu nome preferido. Queria uma alteração mais radical de rumos. Possivelmente o meu real desejo seja de mudança de filosofia da organização. Porém, como isso não ocorrerá tão cedo, meus sonhos ficaram a cargo da posição de head coach.

Por outro lado, também lhes afirmo, sem medo, que não fiquei decepcionado com o nome eleito para comandar o coaching staff.

Escrever para criticar o Dallas Cowboys nas suas decisões é fácil. Hoje vim dar as boas vindas para McCarthy e dizer os motivos que tenho para gostar dessa escolha.

Uma pessoa muito próxima das minhas relações é torcedor do Green Bay Packers. Vou chamá-lo aqui de meu amigo Pedro (um pouco em homenagem ao Raulzito). Quando me defini como torcedor dos Cowboys, na década de 1990, eu cansei de cornetar o meu amigo Pedro. Como são duas das mais pesadas camisas da NFL, os encontros entre Cowboys e Packers sempre foram recheados de emoção e rivalidade. E eu me deitei muito no meu amigo Pedro durante quase todos os anos da década de 1990 com as sucessivas e importantes vitórias de Dallas contra o rival do norte. Foram oito vitórias seguidas! OITO! Três delas na postseason! Duas delas terminaram com vitória no Super Bowl. Incrível. No total da década, 9 vitórias e 1 derrota, e ainda por cima com o Brett Favre como quarterback adversário. Um deleite.

Veio a década de 2000 e nos primeiros quatro jogos entre as equipes houve um recorde de 3-1 a favor dos Cowboys. Freguesia. Meu amigo Pedro nem queria me ver. Naquele momento, o histórico geral apontava para 16 vitórias de Dallas contra 12 de Green Bay, com 4 sucessos dos Cowboys nos playoffs e 2 dos Packers.

Hoje, o confronto marca 20 vitórias para Green Bay e 17 para Dallas. Alguma coisa aconteceu.

A primeira coisa que os atentos dirão é: Aaron Rodgers.

É uma leitura importante. Mas, de qualquer sorte, antes era o Favre e justamente a estreia de Rodgers contra os Cowboys marca a primeira vitória de franquia texana no Lambeau Field.

Outras pessoas afirmarão: foi a época da decadência dos Cowboys.

Também é verdade, mas esta situação começou muito antes do ano de 2009, período em que os Packers emendaram 5 vitórias consecutivas e o histórico entre as equipes começou a ser alterado novamente.

Nessa discussão, eu colocarei uma carta na mesa: foi quando McCarthy foi contratado pelos Packers.

McCarthy estreou na equipe de Green Bay na temporada de 2006, ainda com Favre como quarterback. Ele fez a transição delicadíssima deste que é um dos maiores ídolos do esporte e dos Estados Unidos, discutivelmente o melhor quarterback da minha infância e adolescência (atrás apenas de Troy Aikman), para a jovem estrela Rodgers. Quem acompanhou esse período sabe o quão traumático e difícil foi. Favre, depois de uma curta passagem pelos Jets, acabou no Minnesota Vikings, rival de divisão dos Packers. Por sinal, a grande partida que lembro de Favre contra os Cowboys foi justamente pelos Vikings, nos playoffs da temporada de 2009, numa humilhante derrota imposta aos texanos.

E o novo quarterback, mesmo gênio, precisou de treinamento para se desenvolver.

Depois de classificar a equipe de 2007 para a pós-temporada, com vitória na rodada de wild card, McCarthy teve um ano ruim em 2008, com recorde negativo. De 2009 em diante, os Packers se classificaram oito temporadas seguidas aos playoffs, com uma vitória no Super Bowl na temporada de 2010. Além dele, apenas Tom Landry, Chuck Noll e Bill Belichick conseguiram oito classificações consecutivas à postseason. Recordo perfeitamente da temporada de 2011, onde o Green Bay era uma máquina que jogava por mágica. Eu tinha certeza que eles ganhariam o Super Bowl pelo segundo ano consecutivo. Nessa época, procurei fugir do meu amigo Pedro, mas ele sempre dava um jeito de me encontrar. A temporada terminou no Lambeau Field contra os Giants, e eu até hoje estranho a decisão de arriscar uma 4ª para 6 ou 8 jardas (essa parte falhou na minha memória) ainda no primeiro tempo. Nessa época muitos diziam que Green Bay tinha um ataque tão maravilhosamente técnico e com predominância do jogo aéreo que era prejudicial jogar nas condições climáticas que o Lambeau Field proporcionava em janeiro. Os Giants se aproveitaram disso e de sua fisicalidade.

Durante essas oito classificações seguidas para os playoffs, os Packers se encontraram e venceram os Cowboys no famoso jogo da pós-temporada de 2014, na polêmica decisão revertida da jogada de Tony Romo para Dez Bryant (#dezcaughtit).

Em 2016, McCarthy cruzou novamente nosso caminho e, mais uma vez, Green Bay eliminou Dallas, dessa vez em pleno AT&T Stadium.

As temporadas de 2017 e 2018 foram de muitas críticas e, depois de 13 anos, houve a demissão, não bem assimilada pelo treinador da maneira como foi no meio da temporada.

Em resumo, seu recorde é de 125 vitórias, 77 derrotas e dois empates. Seis títulos de divisão, nove aparições na pós-temporada e quatro no NFC Championship Game. É um belo currículo.

Em comum, entre várias coisas, posso lembrar que McCarthy e Rodgers estiveram juntos todos esses anos, bem como o general manager Ted Thompson.

Nesse mix, acredito que o estilo de administração de Ted Thompson, de certa forma, foi prejudicial ao trabalho de McCarthy, principalmente quando ele precisou das transições de elenco em fim de contrato/idade. Por favor torcedores dos Packers, aqui escreve quem viu tudo de longe, muito diferente de vocês que sentiram tudo isso e tem, quem sabe, um entendimento diferente.

Thompson, como todos sabem, se notabilizou por montar a equipe quase que exclusivamente de atletas oriundos do draft, aliado a mínimas reposições na free agency e, nessas oportunidades, com atletas de pouca expressão, excetuando-se pouquíssimos casos.

Ainda assim, McCarthy conseguiu manter ao longo dos anos um predomínio de Green Bay numa divisão muito disputada, tendo enfrentado um Bears que chegou ao Super Bowl, um Vikings com Adrian Peterson e um Lions com Megatron, entre outros. Não teve barbada nesse caminho.

E, se observarmos apenas o recrutamento de primeira rodada no draft dos Packers ao longo do tempo de McCarthy como treinador, podemos dizer que nem sempre a escolha foi feliz. Fazem parte dessa seleta lista entregue ao head coach AJ Hawk (LB), Justin Harrell (DT), BJ Raji (DT), Clay Matthews (LB), Bryan Bulaga (OT), Derek Sherrod (OT), Nick Perry (DE), Datone Jones (DE), Ha Ha Clinton-Dix (S), Damarius Randall (S), Kenny Clark (NT) e Jaire Alexander (CB). Pergunto novamente ao atento leitor: quantos desses jogadores você conhece? Quantos desses mereceram a escolha na primeira rodada?

O tipo de administração dos Packers mudou completamente com a saída de Thompson, mas McCarthy não viu isso.

Portanto, claro que McCarthy teve um dos melhores quarterbacks da história ao seu lado todo o tempo (embora as várias lesões), mas, ao mesmo tempo, o restante do material humano não era do mesmo nível. Então, não podemos negar que esse trabalho, que teve o seu auge há tempos, é verdade, teve um dedo decisivo do treinador para o sucesso. Talvez muito pelo tempo transcorrido e pelo desgaste das relações, McCarthy poderia ter saído há mais tempo de Green Bay. Boa parte dos torcedores queria isso. Mas é passado. Agora ele está em Dallas.

Durante o ano em que McCarthy esteve longe dos trabalhos como treinador, ele buscou aperfeiçoar seu lado analítico, como pode ser visto nesses dois vídeos gentilmente cedidos pelo Packers Brasil (@PackersBR) e que estão no nosso twitter:

Em relação a sua chegada, acredito que alguns fatores foram decisivos para a escolha de McCarthy.

Em primeiro lugar, seu currículo geral, antes citado, e contra Dallas (7 vitórias contra apenas 3 derrotas), sendo um treinador afirmado. Ah, mas ele só ganhou um Super Bowl. Ora, antes de Bill Belichick e Tom Brady vulgarizarem os anéis, ganhar um já era um feito. Para mim, continua.

Pesou também o fato de que, mesmo tendo uma administração de grupo possivelmente não ideal por parte do general manager da equipe, nunca houve contestação pública por parte de McCarthy (pelo menos não do meu conhecimento), algo importante numa relação que se formará com os Jones.

Também foi fator predominante acreditar que o roster atual dos Cowboys é bom, mas undercoached. Ou seja, o problema estava muito mais na sideline que no grupo de jogadores. Entendendo assim, o front office decidiu que uma mudança drástica, como aquela de 1989 com Jimmy Johnson, não era necessária. Naquele momento, Dallas estava devastado. Hoje, precisavam muito mais de um bom treinador, já testado na NFL, pronto para assumir o grupo e fazê-lo crescer imediatamente do que de uma aposta.

Dessa forma, a decisão seguiu uma lógica interessante, sendo que torço para que renda os frutos necessários para levar os Cowboys para o Super Bowl novamente.

Por fim, gostaria de dar uns pitacos sobre os maiores desafios que McCarthy terá em Dallas.

Em primeiro lugar, precisa melhorar o special teams. Os Cowboys tiveram o melhor ataque geral e a nona melhor defesa geral, segundo o site nfl.com, e, mesmo assim, não foram aos playoffs. Não precisamos nem verificar os números pra perceber que o special teams foi péssimo na temporada.

Depois, precisa acertar a defesa, já que o impacto contra o jogo corrido não foi suficientemente bom e a agressividade e o apetite por turnovers seguiu bastante limitado.

Claro que o ataque precisa de ajustes e a expectativa de juntar a west coast offence de McCarthy com as ideias de Kellen Moore soa bastante aprazível, mas é a unidade mais estável da última temporada.

Mas, por fim, o mais importante será administrar o general manager. Aikman falou sobre isso aqui. Não é fácil lidar com Jerry Jones, sua maneira de administração dos Cowboys e seu ego. O estilo polido de McCarthy lhe manteve no emprego, mas talvez tenha lhe custado mais títulos. Essa parte, na minha opinião – e na de Aikman, é aquela que mais tem sido nociva para as pretensões de Dallas ao longo das temporadas desde as glórias dos anos 1990.

Não falei ainda com o meu amigo Pedro. Certamente ele me dirá um sarcástico boa sorte. Mas, no fundo, ele sabe o que McCarthy pode fazer, especialmente se estiver com sangue nos olhos.

Saudações e Go Cowboys.

 


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Diego Barros

Torcedor do Dallas escondido no velho oeste do Rio Grande do Sul. Veterano na torcida desde a década de 90, louco para recuperar o Lombardi.

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