Opinião

Seis mentiras que andam contando para você sobre o Tony Romo

Amarelão! Pipoqueiro! Só jogou bem porque tem uma linha ofensiva boa! Rei das interceptações!

Você certamente já leu pelo menos uma dessas frases quando o assunto era Tony Romo. Dentre torcedores de outros times, falar do quarterback do Dallas Cowboys é como falar de um jogador comum e com pouco brilho na carreira. Quando o time se destaca, o mérito seria todo do time ao redor dele. E quando o time fracassa, só há um culpado nessa história.

Ele só recebe elogio e atenção porque joga no Dallas Cowboys, o time com mais mídia da NFL!

Bom, isso é, de fato, quase certo. Mas com um porém: Tony Romo não recebe atenção só por isso.

Quis escrever esse texto por ler constantemente críticas e mais críticas erradas sobre Romo vindas até mesmo dos próprios torcedores do Dallas Cowboys. Não, ele não é o QB perfeito ou um jogador Hall da Fama e creio que nenhum torcedor sensato acredite nisso. Mas vamos analisar os fatos antes de criticá-lo.

 

1) “Tony Romo é ruim porque lança muitas interceptações!”

Essa afirmação é provavelmente uma das mais usadas para criticar o Antonio Ramiro e é também uma das mais falsas. Basta uma pequena busca em sites focados em estatísticas de futebol americano para confirmar isso.

De acordo com o site Pro Football Reference, Tony Romo possui 117 interceptações na carreira. Vendo somente por esse lado, o número realmente parece alto. Mas vamos fazer algumas pequenas comparações.

De 2006 (ano que Romo virou titular do Dallas Cowboys) até 2015, Romo é apenas o oitavo quarterback com mais interceptações no período. O primeiro é Eli Manning, com  173 interceptações — alguma surpresa? Tony Romo ainda leva vantagem sobre quarterbacks mais badalados como Drew Brees (152), Big Ben (127) e até Peyton Manning (121). Do jeito que falam, parece que o Tony Romo é o primeiro dessa lista, não é verdade?

Mas é injusto comparar dessa maneira. Afinal, Eli Manning nunca perdeu um jogo na carreira por lesão, enquanto todos os outros QBs citados já perderam ao menos um jogo. E quanto mais jogos disputados, maiores as chances de ser interceptado. Por isso, dá uma olhada nos números de interceptação por jogo disputado na temporada.

Eli Manning lidera nossa lista com 1,08 interceptações por jogo de 2006 pra cá. Tony Romo é apenas o sexto da lista, com 0,92 interceptações por partida — menos de uma por jogo. Drew Brees, futuro Hall da Fama, também fica na frente do Romo nessa lista, dessa vez com 0,96 INTs por jogo.

Para sermos ainda mais específicos, vamos entrar um pouco mais a fundo. Como alguns QBs lançaram mais a bola que outros nesse período, precisamos ajustar nossos dados para isso também, já que quanto menos passes um quarterback tenta, menor a chance de acontecer um turnover.

Mais uma vez, Romo não é o primeiro colocado. Na quinta posição da lista, Romo é interceptado 2,7 vezes a cada 100 passes tentados. Eli Manning, apesar de não ocupar a primeira colocação — perdeu o posto para o Jay Cutler (3,24) — ainda lançou mais interceptações que o Romo por passe: um total de 3,2 INTs a cada 100 tentativas de passe. De 2006 até 2014, o Romo tinha uma porcentagem menor de interceptações por número de passes por jogo mesmo passando mais a bola que Eli Manning por jogo em média — 2,6% com 34,23 passes por jogo em média para Romo e 3,3% com 33,59 passes por jogo para Eli.

Finalizando com alguns dados que o ótimo Mark Lane nos fornece: Tony Romo teve uma sequência na carreira com pelo menos uma interceptação por sete jogos. Eli Manning teve quatro dessas. Drew Brees não só teve uma sequência como essas, como também a ampliou: foram 12 jogos seguidos sendo interceptado.

Da próxima vez que te disserem que o Romo é o “Rei das Interceptações”, pense bem nesses dados.

 

2) “Mas não é que ele lança muitas interceptações, e sim que ele lança justamente na hora decisiva!”

Depois de ver que o Tony Romo não lança tantas interceptações quanto costumam dizer, o argumento muda um pouco. Na verdade, o Romo só é interceptado na hora errada, ora, quando ele precisa decidir! Sendo assim, vamos dar uma checada.

Em uma pesquisa feita pelo Mark Lane, o Tony Romo é apenas o décimo quarterback da NFL com mais interceptações no último quarto do jogo de 2006 até 2014, com 30 no total. Eli Manning novamente lidera a lista, dessa vez com 53 INTs no quarto decisivo da partida. Drew Brees (40), Philip Rivers (40) e Carson Palmer (38) também ficam na frente do Romo nessa lista.

Para um quarterback que sempre amarela no fim da partida, até que ele tem pouca interceptação, não acham?

 

3) “Mesmo sem sofrer turnovers, Tony Romo ainda amarela na hora de conseguir viradas. É um pipoqueiro!”

Antes do começo da temporada regular de 2015, o twitter oficial da NFL colocou o dado de que Tony Romo tem um passer rating (uma nota de 0 a 158,3 que avalia o aproveitamento do jogador) de 95,7 nos últimos dois minutos de jogo em sua carreira. É o maior passer rating de todos os quarterbacks da liga no fim da partida. Ou seja: o rendimento de Tony Romo nos últimos dois minutos das partidas em sua carreira é melhor que o de Tom Brady, Peyton Manning, Drew Brees e Aaron Rodgers.

A conta do Twitter de estatísticas da ESPN americana, a ESPN Stats & Info, colocou que Tony Romo tem 23 viradas de placar no último quarto de 2006 até 2014, maior marca da liga entre quarterbacks nesse período e também a maior marca da história do Dallas Cowboys. Na temporada de 2014, Tony Romo liderou uma virada contra o St. Louis Rams após o Dallas Cowboys estar perdendo por 21 a 0, o que acabou sendo a maior virada da história do Dallas Cowboys.

Tratando-se apenas de game winning drives, isto é, a campanha final que o QB conduz o time pra pontuação da vitória, a história se repete. Com 28 game winning drives de 2006 até 2014, Tony Romo era o quarterback com o maior número entre todos da NFL. Isso mesmo, acima de Peyton Manning (26) e Matt Ryan (26), que vinham logo abaixo. Com a temporada de 2015 e a lesão de Tony Romo, é provável que Peyton o tenha superado, mas isso não apaga o fato de Romo ser decisivo e, por que não, ultrapassá-lo novamente, visto que Manning se aposentou.

Entre os três primeiros quartos e o último quarto, Tony Romo sai de um rating de 118,1 para um de 100,1, enquanto Eli Manning, muito badalado por conseguir vitórias no último período de jogo, passa de um rating de 82,8 nos três primeiros quartos para 83,3 no último quarto, bem abaixo do Romo.

Em dezembro de 2014, Tony Romo teve um rating de nada menos que 133,7. Esse foi o maior rating da história do mês de dezembro na NFL, e justamente por um jogador que é criticado por “amarelar” nos últimos jogos da temporada.

Finalizando com mais um ótimo trabalho do Mark Lane, segue abaixo o passer rating do Tony Romo por minuto do último quarto em sua carreira (até 2014). Lembrando que um rating acima de 90 já é considerado bom e a média da liga costuma girar em torno de 80 e 85.

  • 15:00 – 101.1
  • 14:00 – 102.2
  • 13:00 – 100.8
  • 12:00 – 99.6
  • 11:00 – 99.0
  • 10:00 – 97.2
  • 09:00 – 97.1
  • 08:00 – 95.4
  • 07:00 – 96.3
  • 06:00 – 93.9
  • 05:00 – 93.3
  • 04:00 – 93.5
  • 03:00 – 93.5
  • 02:00 – 93.7
  • 01:00 – 88.8
  • 00:45 – 96.2
  • 00:30 – 91.6
  • 00:15 – 92.5

 

Então… ele é mesmo um amarelão? Tem certeza?

 

4) “Ter esses números é fácil jogando com um bom time em volta. Queria ver ele jogar sem OL e sem um running back bom!”

Essa aí já é uma crítica mais recente. Em 2014, Tony Romo foi o segundo quarterback mais votado para MVP e ao comparar seus números com o vencedor do prêmio, Aaron Rodgers, ele não deixou muito a desejar. Mas qual seria o motivo do Romo ter ido tão bem? O time, claro. Murray foi o Jogador Ofensivo do Ano e a linha ofensiva foi uma das melhores da NFL. Sem eles? Pff, Romo voltaria a ser o jogador medíocre de sempre.

Então… vamos dar uma olhada nos números da carreira do Tony Romo?

Em toda sua carreira, Tony Romo tem um passer rating de 97,1. Acha pouco? Esse rating é simplesmente o terceiro maior da história da NFL, ficando apenas atrás de Russell Wilson (101,8) e Aaron Rodgers (104,1). Isso mesmo, nem Peyton Manning, nem Drew Brees e nem Tom Brady possuem um passer rating maior do que o Tony Romo na carreira. Romo também está acima de todos os quarterbacks do Hall da Fama, mas esse dado é injusto pois o futebol americano do século passado priorizava muito mais a corrida do que o passe.

Para se ter um rating de 97,1 na carreira, Tony Romo precisou jogar em um nível elevado em TODA a sua carreira. Ele ter tido um rating ótimo em 2014 (113,2) ajuda? É claro. Mas o fato de ter tido um rating acima de 90 em todos os anos de sua carreira ajuda muito mais. E isso nem sempre veio com ajuda do time.

De 2007 até 2014, Tony Romo teve nove jogos em que ele liderou o time para 30 pontos ou mais e perdeu, quase o dobro dos segundos colocados, Aaron Rodgers e Drew Brees (5 cada). Pegando somente os quarterbacks da história do Dallas Cowboys, Tony Romo tem o mesmo número de derrotas nesse quesito que Troy Aikman, Roger Staubach e Danny White somados.

Já de 2011 até 2014, Tony Romo teve seis jogos com um rating acima de 100 sem nenhum passe interceptado em que saiu derrotado, acima de qualquer outro jogador no período e o dobro dos quarterbacks que ficaram em segundo na lista, Russell Wilson, Drew Brees e Tom Brady.

Desde 2007, Tony Romo é o quarterback com mais jogos em que conseguiu três passes para touchdown, nenhuma interceptação e foi derrotado na partida. Já desde 2011, Romo acumulou dois jogos em que lançou quatro touchdowns, nenhuma interceptação e perdeu, líder nesse quesito. O que pode ser mais absurdo que um QB lançar para pelo menos três touchdowns, não forçar um turnover e ainda ver o seu time perder o jogo? É justo criticá-lo pela derrota?

Em mais uma estatística, Mark Lane afirma que comparando com todos os quarterbacks com recorde positivo nos playoffs, Tony Romo é o terceiro QB que mais possui jogos em que a defesa cedeu a liderança no placar e a derrota no último quarto, com 18 partidas, atrás somente de Philip Rivers (21) e Drew Brees (31).

Falando em playoffs, nossa estatística final. No jogo entre Dallas Cowboys e Green Bay Packers pelos playoffs de 2014, Tony Romo terminou a partida com um rating de 143,6, muito próximo a perfeição. Nenhum outro quarterback que terminou com um rating acima de 140 nos playoffs perdeu a partida em toda a história da NFL. Por erros da defesa e um lance polêmico da arbitragem, o Dallas Cowboys conseguiu ser o primeiro time a atingir tal feito.

 

5) “Tony Romo é uma moça! Se machuca demais!”

Esse é um ponto que infelizmente não podemos discordar totalmente — tirando o fato de ele ser uma moça, é claro. Desde 2012, Tony Romo não consegue jogar todas as 16 partidas da temporada regular e isso é sim um problema. Mas tem algo que não podemos criticá-lo jamais: sua força de vontade.

Tony Romo sempre demonstrou muito amor a camisa e muita vontade de estar em campo. Em 2011, contra o San Francisco 49ers, Romo sofreu um hit e saiu de jogo com uma costela quebrada. Fim de jogo pra ele? Não. Depois de ver seu reserva lançar duas interceptações, Romo volltou ao jogo, conduziu o time para o empate e, na prorrogação, deu a vitória ao Dallas Cowboys. Após o jogo, foi confirmado que Romo tinha não só a costela quebrada, como também uma perfuração no pulmão.

Em 2013, Tony Romo e o Dallas Cowboys enfrentavam o Washington Redskins fora de casa em um jogo de vida ou morte, precisando ganhar para manter o sonho de playoffs vivo. No segundo tempo, Romo estava claramente mancando após escapar de um sack. Mesmo com a hérnia de disco, Tony Romo conduziu o time para a vitória no último período em um passe decisivo para DeMarco Murray em uma quarta descida. Sua permanência em campo agravou sua lesão e ele perdeu o último jogo da temporada por ter passado por uma cirurgia.

Por fim, em 2014, Tony Romo se machucou novamente contra o Redskins, dessa vez em casa. E o que aconteceu? Romo mais uma vez ignorou a dor e voltou ao campo para liderar seu time para a vitória, que infelizmente não veio.

Apesar das críticas sobre suas lesões serem corretas, vemos um certo exagero sobre isso — muito provavelmente pela imensa queda de desempenho do time em sua ausência. Ao olharmos para a carreira de Ben Roethlisberger, por exemplo, vemos que ele só jogou os 16 jogos da temporada três vezes em 12 temporadas. Você vê o mesmo tipo de crítica que é feita para o Romo também ser feita da mesma forma para o Big Ben? Eu, sinceramente, não.

 

6) “Tony Romo é um fracassado pois nunca ganhou um Super Bowl!”

Inevitavelmente a discussão sempre chega nesse ponto. Sinceramente, eu considero esse o argumento mais estúpido que alguém possa usar. Ao usar esse argumento, a pessoa demonstra que acredita que títulos fazem necessariamente um jogador ser melhor que o outro e isso é totalmente falso. Você compara que kicker é melhor que outro pelo número de anéis que ele conquistou? Wide receivers? Não, você não compara.

Na discussão entre quarterbacks, esse tema é levantado por até algo lógico, visto que é o jogador dessa posição que comanda o time. Mas veja bem: ele comanda o time. COMANDA. O quarterback não representa todo o time para poder creditá-lo como o único responsável em fazer o time ganhar troféus ou não.

Por que vocês acham que quarterbacks que estão no Hall da Fama como Dan Marino e Warren Moon nunca levantaram o Lombardi Trophy? Por incompetência e falta de qualidade? Eu acredito que não. Rex Grossman chegou ao Super Bowl somente por mérito próprio? Trent Dilfer ganhou o Super Bowl pelo Baltimore Ravens apenas por sua qualidade? Todos sabemos que não. Grossman e Dilfer tinham uma forte defesa e um time muito sólido ao seu redor, o que Marino e Moon pouco tiveram ao longo de suas carreiras.

Ao começar a comparar quarterbacks por número de títulos, a pessoa inevitavelmente começa a chegar em algumas bizarrices para manter seu argumento. Ele teria que afirmar que Eli Manning foi melhor que Brett Favre e que Joe Flacco foi melhor que o Dan Marino, entre outras comparações incrivelmente ridículas.

Não, ganhar um Super Bowl não necessariamente torna um quarterback melhor do que o outro. Tony Romo não é pior que outros quarterbacks por não ter um Super Bowl, assim como ele não seria melhor que outros somente por ter ganho um anel.

 

Os números estão aí e não negam: Tony Romo é um quarterback muito bom e os números confirmam isso. Ele é um futuro jogador Hall da Fama? Não, não é e está longe disso. Tony Romo é um quarterback que saiu de uma universidade pequena e não foi selecionado no Draft para se tornar o quarterback detentor de quase todos os recordes possíveis de uma das maiores franquias da NFL.

Seu legado pode não ser totalmente lembrado pela ausência de Super Bowls, mas uma coisa é certa: Tony Romo é mais do que pensam. Bem mais.

 

Gabriel Plat

Curte NFL por escolha e o Dallas Cowboys por amor. Aprecia a boa música e compartilha outro sofrimento: o Botafogo. Um dos participantes do podcast.

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