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OPINIÃO | Vale a pena investir alto na posição de tight end?

Você sentiu falta de alguma liderança no começo da temporada? Ou de um alvo seguro? Talvez algum número em especial que você procurava nas costas dos uniformes… Sim, a perda do nosso número 82 foi tão sofrida e difícil de acreditar, quanto à jogada que a foto desse texto relembra. O Dallas Cowboys tinha nada menos do que segurança e solidez na posição de tight end desde que Jason Witten vestia e honrava seu uniforme. Foram 15 anos em Dallas, e tirando seu ano de calouro, Jason Witten não começou jogando em apenas 2 jogos. Exatamente, foram 224 jogos de temporada regular no período de 2004 até 2017, e ele começou como titular em 222. Entende o porquê de sólido?

Witten tem um número impressionante em conversões de primeira descida em sua carreira, ainda mais quando a situação é de terceira ou quarta descida, 3ª para 8? Passe pro 82 e first down. 3ª para 5? Passe no 82 e first down. Para 11? Bola no Witten e first down Dallas. Isso quando o passe não era recebido para um dos seus quase 70 touchdowns na NFL. Entendeu o porquê de seguro?

É quase unanimidade que Witten estará futuramente no Hall da Fama da NFL, e seguramente estará na lista do Ring of Honor de Dallas. São recordes atrás de recordes, 11 vezes indo ao Pro Bowl, All Pro em 4 oportunidades. O que faltou para Jason Witten? Infelizmente o mesmo que faltou para Tony Romo, o Super Bowl.

Ficou convencido o quão importante é ter um tight end de elite? Os números do ataque de Dallas mostram isso com certa evidência em 2018. Até a semana 9, estréia de Amari Cooper, Dallas ocupava o 30º lugar em conversões de terceiras descidas, com pouco mais de 30% de aproveitamento em tais situações, simplesmente pífio. Em 2017, Jason Witten foi um dos grandes responsáveis por fazer o time ficar em 6º lugar nessas situações, com quase 43% de aproveitamento, assim como em 2016 o time também manteve os 43% de aproveitamento nessas situações, se mantendo no top 10 da liga, ficando em 9º lugar. Dallas ainda terminou o ano de 2018 em 15º lugar, com quase 40%, a diferença do time sem Witten nessas situações é notável, por mais que Amari Cooper tenha dado outra identidade e fizesse o ataque renascer. Você pode até pensar, que o ataque de 2016 estava mais liso, sem pontas soltas, Dez Bryant ainda estava no time, a linha ofensiva era a melhor da liga, porém Jason Witten era quem fazia o “trabalho sujo”, ele afetava em todas as fases do ataque, chamava muita atenção no jogo aéreo, era ótimo bloqueador, com certeza ele foi a maior perca de Dallas nessa offseason de 2018.

Potencial é visto em quase todas as posições dessa equipe, exceto por exemplo na posição de tight end. Isso é, se você conseguir enxergar futuro em Rico Gathers, Geoff Swain, Blake Jarwin e Dalton Schultz. O primeiro, provavelmente não estará no time em 2019 por conta de seus problemas com lesões e extra-campo. Swain enfrenta a mesma sina com lesões que o impedem de ter sequência e mostrar solidez, além de ser um free agent e pode não ter o contrato renovado. Schultz se mostrou um bom reserva ótimo para compor elenco e nada mais. Jarwin teve uma amostra de brilhantismo apenas no último jogo da temporada, onde recebeu para 119 jardas e 3 touchdowns contra um New York Giants que não disputava mais nada e já não tem uma defesa tão sólida.

Então, vale a pena investir alto? Em questão de free agency, podemos ter alguns jogadores interessantes, mas nenhum jogador que seria uma garantia na posição. Falando dos mais sólidos, Jesse James pode não renovar com o Pittsburgh Steelers. Apesar de talvez ser o melhor candidato disponível na free agency, já possui interesse de outros times como o Jacksonville Jaguars, o que poderia começar um tipo de leilão pelo jogador, o que não interessa aos Cowboys com outras pendências mais importantes em relação ao seu salary cap, como as renovações de jogadores totalmente importantes no time. Antonio Gates está em reta final de sua carreira, e faz mais sentido ao jogador continuar por mais um ano no Los Angeles Chargers. Jared Cook foi ter sua melhor temporada da carreira num 2018 de um Oakland Raiders em total reconstrução, onde era praticamente o único alvo do ataque, lembrando que o jogador fez aquela recepção ridícula que sacramentou nossos sonhos de Super Bowl em 2016. Austin Seferian-Jenkins ainda é jovem, porém nunca demonstrou o valor da escolha de segunda rodada que o Tampa Bay Buccaneers investiu nele no draft de 2014. O que nos leva ao discutivelmente, free agent na posição de tight end mais talentoso de 2019, Tyler Eifert. Este mostrou alguns momentos em sua carreira que pareciam o levar para o status de elite. Porém, Eifert sofre com um problema incrível de lesões, nunca conseguiu ter uma temporada com 16 jogos. Em 2015 que foi seu melhor ano, jogou 13 jogos, teve 52 recepções para 615 jardas, e incríveis 13 touchdowns. Eifert é um verdadeiro alvo na red zone, o que de longe, foi o maior problema do ataque dos Cowboys nessa temporada.

Como seu histórico de lesões é alto, provavelmente não irá existir tanta concorrência pelo jogador, o que seria mais viável para Dallas tentar um contrato curto, até mesmo de um ano com um valor acessível para o mesmo se provar. Eifert é cunhado do nosso RG Zack Martin, e mesmo isso parecendo não significar muito, pode fazer o jogador se sentir mais à vontade e com um clima mais amistoso nos vestiários do America’s Team, isso pode ajudar em sua recuperação e quem sabe seu problema de lesões não acabe sendo superado. Depois da recuperação de Jaylon Smith, que era dito que o jogador nunca poderia jogar novamente, o otimismo nessas situações é grande. Particularmente é o único jogador na posição que eu tentaria um contrato nessa offseason.

Bom, se a free agency não tem nada muito especial, e no draft? Este ano, Dallas não possui uma escolha de primeira rodada no draft. O que já deixa um pouco mais caro o investimento para selecionar os prospectos mais talentosos. A classe é muito bem vista este ano, com alguns especialistas colocando até mesmo três tight ends sendo escolhidos na primeira rodada, e se Dallas quiser segurança nessa posição pelos próximos anos, é bom pensar em subir para garantir algum deles.

Muito bem avaliado como uma futura estrela na posição, o tight end Noah Fant, surge como talvez o melhor tight end desta classe, Fant possuí um atleticismo de elite, segurança com as mãos e parece ser um alvo confiável, executa rotas excelentes, e pode fazer recepções contestadas. Até um ano atrás, Fant era visto como prospecto de final de primeira e começo de segunda rodada, porém este último ano parece ter feito o jogador se estabelecer como uma segura escolha de primeira rodada, de metade para o final dela. Ele é um alvo na red zone pelo seu tamanho, que causa também disputas desfavoráveis para os defensores.

Noah Fant parece ser também um bom bloqueador, apesar dessa afirmação também causar certa discussão com a mídia especializada americana e nacional, que dizem ser os bloqueios, seu ponto fraco. Porém, diferente da maioria dos tight ends que chegam a NFL, ele não costuma se alinhar no slot como um wide receiver, na maioria das vezes se alinha ao lado do offensive tackle para realizar os bloqueios, e num ataque com a mentalidade principal na corrida como é o de Dallas, o jogador cairia perfeitamente bem. Quem não se lembra dos comentários que Jason Witten era um dos melhores tight ends bloqueando da liga? Senão o melhor. Até mesmo o jogo corrido de Dallas pode se beneficiar com um jogador completo assim.

Tradução: “Não tenho certeza do que as pessoas estão assistindo quando dizem que Noah Fant não sabe bloquear… Tira facilmente o defensor da jogada nesta outside zone”.

Para escolher Fant, Dallas precisaria seguramente de uma troca para tentar adquirir o jogador no primeiro dia. Nos últimos drafts, não vimos Jerry Jones se movendo para fazer trocas no primeiro dia de draft, porém este jogador parece ser especial para a posição, e particularmente seria meu favorito, tentaria no mínimo negociar uma subida possível, sem perder muitas escolhas ou até mesmo colocar um jogador na troca, um tight end de seu calibre, pode ser um pilar para o ataque deslanchar de vez agora nas mãos de Kellen Moore.

O companheiro de time de Fant, T.J. Hockenson também é um jogador que está cotado para sair na primeira rodada. Hockenson possui números de jardas recebidas maiores, tem mais prestígio por se mostrar um grande talento como recebedor e ter um trabalho de bloqueios ainda melhor que de seu companheiro. Ele se mostra como um jogador completo, e pronto para estar em campo na NFL. Hockenson parecia ser mais unanimidade entre os analistas, como jogador de primeira rodada, porém ainda existem divergências entre a maioria de quem é melhor, ele ou seu parceiro de equipe, mesmo com a reta final da temporada tendo parecido solidificar Fant como o melhor TE da classe. Ambos possuem 21 anos, o que os coloca com ainda mais valor por serem tão jovens mesmo no draft, onde alguns jogadores chegam já com 24 anos. Ambos possuem qualidades similares, fizeram grandes partidas no college, porém acredito que Noah Fant se mostra mais regular no quesito de fazer grandes jogadas, um potencial recebedor para mais de 1000 jardas numa temporada. Os jogadores de Iowa, estão cotados para sair na primeira rodada, o que deixa Dallas na mesma situação, precisando subir no draft para tentar selecionar algum dos dois.

Ambos estão no Top 3 de tight ends na classe de 2019, junto de ambos, ainda está Irv Smith Jr. Ele teve um ótimo ano de 2018, se mostrando um jogador difícil de marcar no jogo aéreo e parece ter uma árvore de rotas bem polida. Smith é um jogador muito atlético, que dominou alguns jogos na linha de scrimmage realizando bloqueios. O jogador de Alabama está cotado na maioria das simulações de drafts, como jogador de final de primeira rodada, chegando até na metade da segunda, o que deixaria um cenário mais provável para Dallas o selecionar caso ele caia até a escolha de número 58 ou tentar uma troca mais viável para subir poucas posições. Smith é um excelente corredor de rotas, porém não possui muita habilidade com as mãos. Sua velocidade está acima da média para tight ends, porém nada de surpreendente. Tem ótima habilidade como bloqueador, o que faz chamar atenção da equipe técnica de Dallas. Apesar de não ter um tamanho muito adequado para um tight end, Smith compensa com seu entendimento do jogo, como jogadas de corridas, onde deve estar bloqueando, qual gap liberar, com sua boa árvore de rotas e conseguindo boas separações dos marcadores em algumas jogadas.

Tradução: “Vamos lá Irv Smith!! Acabe com ele!!”.

Tradução: “Eu sou um grande fã do TE Irv Smith Jr. Uma peça de xadrez versátil que fará 21 anos em agosto. Genes fantásticos também. Seu pai (Irv Smith, Sr.) foi a 20ª escolha geral no NFL Draft de 1993 do New Orleans Saints. Ele teve uma carreira de 7 anos”.

Alguns sites já comentaram sobre o interesse dos Cowboys em selecionar o tight end no draft, apesar da urgência na posição, ele pode ser desenvolvido, tem um teto alto de evolução, e para os mais supersticiosos, jogou com o número 82 em seu uniforme. Coincidência? Apesar de não ser avaliado como o melhor prospecto de tigh end no draft, não quer dizer que o jogador não possa se tornar elite, aliás, a única certeza que temos do draft, é a incerteza, já vimos vários jogadores saindo em escolhas altíssimas que não renderam nada perto do esperado, e também os famosos steals, jogadores saindo do meio para o final do draft, tendo carreiras dignas de Hall da fama.

Dois dos melhores tight ends hoje na NFL, Zach Ertz e Travis Kelce, foram escolhas de segundo dia, Kelce ainda por cima escolhido na escolha número 63, foi selecionado 16 posições após Dallas escolher Gavin Escobar com a 47ª escolha no draft de 2013. Uma terceira rodada não parece ter sido um custo caro pelo que Kelce apresentou até hoje, nem mesmo a segunda rodada de Ertz. O próprio Jason Witten foi uma escolha de terceira rodada, muito barato pelo que ele nos proporcionou.  Todos se pagaram, e se destacam e destacaram como jogadores de elite na liga.

Correm por fora alguns outros nomes como Jace Sternberger de Texas A&M, Caleb Wilson de UCLA, Kaden Smith de Stanford e Isaac Nauta de Georgia. Todos são jogadores que podem ajudar o time, porém seria um investimento bem menor do que os citados acima e chegariam para compor elenco provavelmente. A verdade é que se Dallas quiser novamente um jogador de Elite na posição de tight end, precisará investir alto.

A importância de Jason Witten para a franquia foi muito maior que apenas no campo, ele era um líder, uma pessoa de caráter elogiável por simplesmente todas as pessoas com quem trabalhou. Deixou saudades pelo seu talento e a vontade e dedicação com que vestiu a camisa do time, e caso nesses jogadores citados, houver qualquer traço de qualidades parecidas, vale uma análise especial.

O trabalho neste draft precisará ser muito bem feito, talvez até melhor que nos últimos anos, que foi de grande sucesso. O time agora também possuí necessidades ainda mais urgentes em uma posição mais importante, que é a posição de defensive end, após nova suspensão de Randy Gregory, precisa também melhorar a posição de safety para nivelar com o restante da unidade defensiva que foi uma das melhores da liga no ano passado e claro reforçar a linha ofensiva que passou por altos e baixos. Resta entender quais jogadores podem de fato continuar atuando em nível aceitável, e investir nas posições de fato mais defasadas tecnicamente, como acredito ser a de Tight End. Claro que falar é fácil, veremos tudo isso a partir do dia 13 de março, quando começa a free agency, e entre 25 e 27 de Abril, dias que ocorrem o NFL Draft 2019.

O que podemos aprender disso, é que sim, tight ends são posições importantes num esquema tático de alto nível, ainda mais atualmente, com tantas formações diferentes, com a liga se reinventando ofensivamente, o investimento vale quando as chances de retornos são maiores, e concluindo meu pensamento, o Dallas Cowboys, deve pelo menos sentar e analisar esses jogadores de primeira rodada e até oferecer algumas trocas para tentar contar com um jogador que seja mais seguro para eventualmente se tornar um real jogador de elite como tight end. Com a classe não tendo muitas certezas tirando os três melhores, e Dallas carente na posição, o investimento terá de ser feito, seja ele alto ou não, então aí vale a pergunta para você leitor que acompanhou a leitura até aqui, vale a pena investir alto na posição de tight end? Apesar de todas as necessidades, se for para ter a segurança e solidez parecidas com que tivemos na era Jason Witten, eu acho que sim, vale investir a pena alto.

Carlos Ramalho

Sofreu do famoso amor à primeira vista com a NFL em 2010 e se encantou com os Cowboys no mesmo ano. Desde então, segue fielmente o Time da América!

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