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OPINIÃO | Torcer pro Dallas Cowboys é uma MERDA, mas é legal

Vou começar esse texto citando uma pessoa que não tem absolutamente nada a ver com futebol americano: Antônio Carlos Jobim, mais conhecido como Tom Jobim. Quando vivo, muito provavelmente o autor da famosa música Garota de Ipanema não tivesse a menor ideia do que era futebol americano, muito menos do que era o Dallas Cowboys.

Acontece que Tom é o autor de uma frase muito famosa que em minha opinião tem tudo a ver com o nosso time de bola oval. Certa vez, quando perguntado sobre como era morar nos Estados Unidos (Tom Jobim viveu muitos anos por lá), o compositor respondeu:  “Morar nos Estados Unidos é legal, mas é uma merda. Morar no Brasil é uma merda, mas é legal”.

É a mesma coisa com o Dallas Cowboys. Torcer para esse time é uma MERDA, mas é legal. Assim como torcer para o New England Patriots é legal, mas é uma merda.

Explico o porquê.

Em New England, tudo é fácil, em todos os anos. Você começa a temporada sabendo que será o campeão da sua divisão. Sabe que vai ganhar no mínimo uns 12 jogos com uma vantagem de no mínimo 10 pontos. Sabe que se um jogador importante se lesionar (não o quarterback, NUNCA o quarterback), o substituto fará um bom trabalho. Sabe que a briga do time será para ver se terá a folga na primeira semana dos playoffs ou não. Sabe que tem muitas chances de chegar ao Super Bowl e que se for eliminado nos playoffs, o time estará no ano seguinte lá buscando a revanche. Isso é legal?

MUITO.

Torço para o Dallas Cowboys há VINTE ANOS. O primeiro jogo que vi foi em 1996, aos 8 anos de idade, numa televisão de um Wall Mart em Orlando, num tempo em que a cotação dólar-real era 1,20 e te fazia pular de alegria. Morando no Brasil, era praticamente impossível acompanhar o time com regularidade. Com a melhora da internet, passei a ser um torcedor mais assíduo a partir do início dos anos 2000, época em que nossas grandes estrelas dos anos 90 como Aikman, Smith e Irvin já haviam encerrado a carreira e o grande time dos anos 90 não era mais o mesmo. Mesma época em que os gênios Bill Belichick e Tom Brady passaram a dominar a NFL de uma maneira assustadora.

E eu sempre quis ter uma temporada de New England Patriots em Dallas. Queria saber em setembro que o Cowboys chegaria aos playoffs e brigaria para conquistar o sexto Super Bowl. Queria que New York Giants e Philadelphia Eagles tivessem times fracos que sequer nos ameaçassem. Queria ter um time completo em todos os setores, que pudesse ser ameaçador em dezembro e janeiro. Mas isso, nunca aconteceu, com raríssimas exceções até o passado recente.

Muito pelo contrário. As coisas são sempre sofridas e suadas para o Time da América pós-anos 90. Não há jogo fácil para nós. Podemos tanto fazer jogos brilhantes contra os melhores da NFL quanto fazer péssimos com os lanternas. Dificilmente metemos 49 a 13 em alguém. Tudo é mais suado, tudo é mais sofrido conosco. Estamos acostumados com derrotas e vitórias no último segundo e eliminações na semana 17. Campanhas de 8 vitórias e 8 derrotas. Um ano com uma defesa boa, outro ruim. O ataque também. Sempre temos um problema. Estamos acostumados com times bons cometendo erros crassos em jogos de playoffs (olá 2007) e ficando de fora.  E a cada temporada ruim, a cada derrota de playoff, vem aquele sentimento otimista de que no ano seguinte, as coisas vão dar certo.

E se você pensar bem, isso é legal pra caramba. Só faz aumentar o sentimento e a paixão pelo time. Um título de divisão vale muito mais para nós. Uma campanha digna de playoffs, também. Uma vitória é muito mais saborosa. Uma derrota, muito mais dolorida. Não somos nunca o saco de pancadas, mas também não chegamos como favoritos absolutos. O futebol americano é um esporte fantástico porque é extremamente imprevisível. Assim como o Dallas Cowboys.

Perdemos domingo, mais uma vez. Seis malditas derrotas em playoffs desde 1995 e apenas duas vitórias. Num ano atípico, após uma decepcionante campanha 4-12 em 2015, onde vencemos impressionantes 11 jogos consecutivos com dois calouros comandando o nosso ataque. Num ano que vencemos de maneira fácil os sacos de pancada e praticamente não tivemos derrotas típicas de Dallas Cowboys nos segundos finais (tirando as duas contra o Giants). Perdemos com 13 vitórias e 3 derrotas, após uma semana de descanso e em casa, na melhor chance que tínhamos de voltar a uma final de conferência e a um Super Bowl em mais de 10 anos.

Foi uma merda essa derrota. 3 field goals de mais de 50 jardas (contando aquele do timeout). Um passe numa terceira para 20 praticamente impossível. Um sack no quarterback adversário pelo lado cego que não resultou em fumble sabe-se lá como. Depois buscar o resultado após estar perdendo por 18 pontos no primeiro tempo, cometendo os malditos erros e faltas que já nos custaram caro no passado. Com uma interceptação sob um jogador que não sofria nenhuma desde nem-me-lembro-quando. Com outra anulada por uma falta. Com apenas 3 segundos restantes. Contra um dos melhores quarterbacks da NFL e um time de muita tradição que terminou em quarto na conferência. Por que eles terminam em quarto justamente quando somos os primeiros? Por que não podemos enfrentar um quarto colocado comandando por Brock Osweiller, assim como New England, onde tudo é fácil, é mole, é lindo? Porque somos Dallas Cowboys. Lá é legal, mas é uma merda. E aqui é uma merda, mas é legal.

Obviamente que não quero dizer que foi legal perder; meu ponto é que prefiro muito mais perder um jogo dessa maneira, com o time lutando, suando, corrigindo seus erros em campo e dando a volta por cima do que tomando uma surra do adversário. Foi o mais emocionante jogo dos playoffs até agora. Só poderia ser: o Dallas Cowboys estava nele.

Você acha que o Mason Crosby teria acertado 3 chutes de mais de 50 jardas se o jogo fosse contra New England, Seattle, ou qualquer um dos outros seis times restantes nos playoffs? Não, certamente ele teria errado ao menos um. São coisas que só ocorrem conosco, contra ou a favor. Dessa vez foi contra, mas pode acreditar: um dia vai ser a favor.

E esse dia está chegando. Queria que fosse no domingo, para premiar caras como Tony Romo e Jason Witten, que há mais de 10 anos sofrem como eu. Mas não deu e o que me conforta é que temos novos talentos e estamos fazendo bons trabalhos nos últimos drafts. Nossa defesa irá ser reforçada e esse time vai vir forte nos próximos anos, onde vamos brigar e lutar como sempre fizemos ao longo desses dolorosos anos. A espera vai acabar, a vitória no divisonal round finalmente virá,  we will finish the fight e chegaremos ao Super Bowl novamente. E pode ter certeza que vai ser muito, mas muito mais legal do que se fosse qualquer outro time.

Rafael Freitas

Fã do Dallas Cowboys desde 1996, sonha em ver o time de volta ao Super Bowl. Mais novo integrante do Blue Star Brasil

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