Quando foi oficializado que Dez Bryant ficaria algumas semanas de fora, muita gente pensou que o jogo aéreo estava acabado. Alguns jogos se passaram e o jogo aéreo de Dallas conseguiu sobreviver, e com qualidade. Com todas as peças do ataque se encaixando perfeitamente, era natural que todos se sentissem animados ao ver o melhor wide receiver da franquia retornando e adicionando mais qualidade a um time que estava tendo êxito jogo após jogo.
Com Dez em campo, não precisou de muitas tentativas de passe em sua direção para que alguns torcedores notassem algo estranho: a sua presença estava prejudicando o time. A afirmação parece atrevida, e até mesmo sensacionalista. Como poderia o astro da equipe, que em APENAS 4 recepções conseguiu 113 jardas e ainda marcou um touchdown, estar prejudicando a equipe? Confesso, a intenção é mesmo causar uma dualidade de opiniões sobre o assunto.
Não é que o camisa 88 tenha jogado mal ou nada do tipo. Poderíamos, inclusive, dar total crédito a ele pelo TD marcado. Mas mesmo com boas recepções, não pude deixar de ter um sentimento negativo em algumas jogadas por conta da presença de Dez em campo. Durante a transmissão da partida, alguns torcedores rasgaram elogios e críticas sobre a performance do ataque, sempre focando a influência de Bryant nas jogadas. Vejamos alguns fatos sobre o jogo numa pequena análise para entender se e como Dez Bryant alterou cada ponto abordado.
1. PLANO DE JOGO
Muito se falou que o sucesso do jogo aéreo do Dallas Cowboys até aqui se deu porque se optou por uma adaptação do playbook para deixar Dak Prescott mais confortável. Além das formações mais práticas para o calouro, grande parte das jogadas chamadas eram de passe curto, o que fez do slot receiver Cole Beasley o maior alvo de Prescott até então. Com a volta de Bryant, vimos Dak apostando mais nos passes longos, o que inclusive rendeu a Dez uma média de mais 28 jardas por recepção. Das 113 jardas do recebedor, apenas 17 jardas foram ganhas após a recepção, o que indica que a bola viajou bastante antes de ser recebida.
De acordo com os números exibidos pela NFL e contabilizados pelo site www.nflsavant.com, o Dallas Cowboys obteve os seguintes dados: na Semana 4 foram 32 tentativas de passes curtos e 1 tentativa de passe longo (para mais de 20 jardas no ar); na Semana 5 foram 22 tentativas curtas e 4 longas; na Semana 6 foram 24 curtas e 4 longas; na Semana 8 foram 30 tentativas de passes curtos e 11 tentativas de passes longos. destes 11 lançamentos profundos, 7 foram na direção de Dez Bryant. Aparentemente o retorno do wide receiver inspirou mais chamadas longas. Contudo, vamos ser sinceros: a confiança crescente de Dak Prescott pode também estar atrelado a esta estatística, já que nas três primeiras partidas da temporada, Dak arriscou apenas 7 passes longos totais na direção de Bryant.
2. PROGRESSÃO DE ROTAS
Toda jogada de passe tem um jogador primário para receber a bola. Este homem dentro de campo geralmente é o primeiro jogador do ataque que o quarterback olha para analisar se o passe para ele é possível. Quando o recebedor primário está sob marcação, é hora de procurar por outros. O QB deve ter a habilidade de progredir visualmente cada colega do ataque e suas rotas, para o caso de o seu recebedor principal na jogada estiver bem marcado. E esta análise deve ser feita em poucos segundos.
Dak até a partida contra Green Bay mostrou muita maturidade ao proteger bem a bola, sobretudo evitando passes arriscados e sendo capaz de encontrar rotas desfavoráveis a uma interceptação. Não é à toa que ele completou tantas partidas sem uma interceptação. Porém, curiosamente após o retorno de Dez Bryant no último domingo, Prescott arriscou mais do que nos acostumamos a ver.
Esses passes forçados foram, na maioria, feitos na direção de Dez, desconsiderando muitas vezes a análise das demais rotas. Em alguns snaps, alguns torcedores ficaram loucos ao ver alguns recebedores totalmente livres, enquanto Dak permanecia com os olhos fixos em Dez. Veja esses dois lances:
Note que o primeiro lance é uma 1st&10 no fim do primeiro quarto. Um passe curto para Alfred Morris poderia render no mínimo 4 jardas. Mas a jogada foi desenhada para um passe longo, o que não há necessariamente um problema nisto. A grande questão é que Dez Bryant estava com marcação colada nele. Já no segundo lance havia uma terceira para cinco já no último período. Os Cowboys perdiam por 10 pontos de diferença e era necessário pontuar. Dez Bryant mais uma vez estava bem marcado, e se Dak tivesse olhado um pouco mais para a esquerda, teria visto Jason Witten a 6 jardas de distância do seu marcado e muito próximo de conseguir uma primeira descida.
3. COLE BEASLEY E JASON WITTEN
Poderíamos falar também de Terrance Williams, mas vamos nos concentrar nesses dois.
Cole Beasley está para Dak Prescott assim como Jason Witten está para Tony Romo. O slot receiver foi a válvula de escape de Prescott em vários momentos, principalmente em conversões cruciais de terceira descida. Ele ainda é o recebedor com mais targets e recepções da temporada. 21% de todas as tentativas de passe de Dak Prescott foram na sua direção.
Com a volta de Dez Bryant, muitos se queixaram do “apagão” sofrido por Beasley, já que ele deixou de ser o maior alvo do quarterback. Mas estatisticamente falando, os seus números são similares aos das semanas em que Dez não entrou em campo:
Semana | Recepções | Passes na Direção | Jardas |
1 | 8 | 12 | 65 |
2 | 5 | 8 | 75 |
3 | 7 | 7 | 73 |
4 | 3 | 4 | 66 |
5 | 4 | 4 | 53 |
6 | 6 | 7 | 58 |
8 | 4 | 6 | 53 |
Apesar de não parecer existir nada de diferente aqui, há um pequeno detalhe. Dak Prescott lançou 39 vezes contra os Eagles, um número apenas menor que a sua estreia contra os Giants. Esta quantidade de tentativas acima da média das últimas semanas deveria ser convertido em números maiores para Beasley, já que ele vinha sendo o maior alvo de Dak. No entanto, esses passes foram lançados na direção de Bryant, o que lhe rendeu uma quantidade tão grande de alvos.
Já Jason Witten, estatisticamente, sofreu com o retorno de Dez. O tight end foi alvo em apenas 3 ocasiões na partida contra os Eagles e completou apenas 2 recepções. O jogador teve o menor número de jardas da sua temporada, anotando 16 jardas na sua conta.
Semana | Recepções | Passes na Direção | Jardas |
1 | 9 | 14 | 66 |
2 | 3 | 4 | 51 |
3 | 2 | 2 | 25 |
4 | 7 | 10 | 47 |
5 | 3 | 6 | 43 |
6 | 4 | 7 | 42 |
8 | 2 | 3 | 16 |
Lembrando que Dez Bryant ainda estava presente nas Semanas 1, 2 e 3. Outro detalhe: Como estamos analisando a quantidade de jogadas por jogador escolhidas por Dak para os seus lançamentos, até mesmo as chamadas que resultaram em faltas estão neste gráfico acima.
CONCLUSÃO
Apesar de tantos dados e números, esta é uma análise subjetiva. Declarar que Dez Bryant está prejudicando o ataque é quase um motivo de ser banido de todos os grupos de torcedores do Dallas Cowboys. A qualidade deste wide receiver o coloca como uma das principais armas ofensivas desta equipe. O TD que ele marcou é a prova disto.
Porém, os treinadores precisam ajustar esta dependência visual de Dak, que resultou em apenas 4 passes completos dentre os 17 targets, além de potencializar interceptações. O plano de jogo com pequenas rotas funcionou bem em vários momentos, inclusive ajudando a controlar o relógio. O jogo corrido poderia ter sido mais utilizado, já que Ezekiel Elliott esteve bem na partida, encontrando gaps e quebrando tackles.
Críticas à parte, não podemos deixar de comemorar a volta do nosso melhor wide receiver. Até agora foi único do time a ultrapassar as 100 jardas em recepção e esperamos que a sua capacidade de criar big plays continue a nos impressionar em cada lançamento.