Opinião

OPINIÃO | A conta de Jason Garrett

Era 14 de novembro e os Cowboys enfrentariam os Giants em Nova York pela décima semana de 2010.

A temporada havia iniciado com excelentes perspectivas, já que os Cowboys vinham de uma campanha muito boa em 2009, com a primeira vitória em playoffs depois de muitos anos. O elenco era muito talentoso e as adições de Dez Bryant e Sean Lee via draft aumentaram as esperanças de título.

Porém, tudo que se viu nas rodadas anteriores de 2010 foi catastrófico. A equipe de Dallas entraria em campo com o recorde de 1-7 (bye na 4ª), logo após uma humilhante derrota no Lambeau Field (7-45) que culminou com a demissão do treinador Wade Phillips. Três semanas antes Tony Romo havia fraturado a clavícula esquerda e estava fora pelo resto da temporada. Um horror.

Por acaso eu me encontrava em Nova York para acompanhar esta partida.

Tinha tudo para dar errado. Entretanto, sob o comando de Jon Kitna como quarterback, vencemos por 33-20 numa excelente exibição. Um jogaço. Êxtase era o meu nome. No dia seguinte, enquanto esperava o voo de retorno, fiz uma lúcida e sensata projeção para o restante do ano e antevi que os Cowboys venceriam todas as sete partidas restantes e, com uma pitadinha de sorte, teriam uma vaga via wild card. Torcedor e sonhador eram sinônimos. No fim, terminamos com o recorde de 6-10.

Relembro esta passagem para dizer que Jason Garrett, nosso atual head coach, estreou naquele exato jogo como treinador interino. Ele tem uma longa história nos Cowboys, iniciando como jogador na década de 1990 e chegando a coordenador ofensivo em 2007, ano de belíssima campanha. Depois, foi assistente técnico, interino e, finalmente, treinador principal a partir de 2011, cargo que mantém.

Em dez anos na comissão técnica em diversos níveis, fomos a quatro playoffs, com o recorde de 2-4. Enquanto isso, assistimos dois títulos dos Giants e um dos Eagles. Uma comparação naturalmente terrível.

Por outro lado, ao menos desde 2014, há em Dallas um plano de (pelo menos) rejuvenescimento em execução, bastando comparar as fotografias da equipe de três ou quatro anos para cá. Demarcus Ware e outros jogadores das linhas defensiva e ofensiva saíram, bem como uma troca completa da secundária e running backs, entre outros. Tony Romo se aposentou.

Na atual temporada, este processo se acentuou ainda mais. Com influência direta de Garrett (é impossível não pensar isso!), os pro-bowlers Dan Bailey e Dez Bryant foram dispensados. Ambos são recordistas da franquia e ídolos da torcida. Jason Witten, outro ícone, virou comentarista. Reposições? Questionáveis. Safeties? Só no campo dos sonhos esperando uma troca.

Além disso, a equipe possui a terceira menor média de idade de toda NFL, atrás apenas dos Browns e dos Bengals. Quem são os líderes? Quem vai segurar a pressão? Ótimas perguntas.

Só podemos concluir que Jason Garrett se colocou numa situação como nunca antes no seu tempo em Dallas. Não há equipe na NFL que tenha mais pressão que os Cowboys. Fazer parte do America´s Team é para poucos. Ele sabe muito bem disso, ainda mais com as decisões dessa pré-temporada. A avaliação se dá não apenas seguindo o raciocínio de dispensa de jogadores veteranos, mas pelas motivações disso e por quem eles foram preteridos e/ou repostos. Mesmo que a família Jones prestigie seu treinador, essas movimentações empurraram Garrett contra a parede. O comando técnico será cobrado pelas suas escolhas.

Também devemos considerar que há muito se espera uma ação mais forte de Jason Garrett. E nesta pré-temporada ele tomou decisões sabendo que a conta seria gigantesca. Seria ele o único responsável por tudo isso? Evidente que não. Há o dono e seus executivos no comando do Dallas Cowboys, obviamente. Mas ele é o head coach e o processo desta temporada parece ter sua influência direta. Afinal, ele está há uma década na comissão técnica e quase isso como treinador principal. Ninguém dura para sempre, especialmente sem títulos.

Devemos acreditar? Talvez um pouco menos que eu depois da estreia do interino Garrett em 2010, mas para colocar o pescoço tão à mercê da navalha provavelmente ele e seus assistentes saibam algo que a maioria dos analistas e torcedores não perceberam até agora. Eu sonho com isso…

Diego Barros

Torcedor do Dallas escondido no velho oeste do Rio Grande do Sul. Veterano na torcida desde a década de 90, louco para recuperar o Lombardi.

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