Opinião

O que mudou no Dallas Cowboys nessa sequência de vitórias?

Quando chegamos ao fim da Semana 9, víamos um Dallas Cowboys em pedaços. O time estava com um recorde de 3-5 após uma terrível derrota em casa para o Tennessee Titans. Tanto a comissão técnica quanto o quarterback Dak Prescott estavam no olho do furacão, sendo os principais alvos das críticas pelo desempenho do time. Com uma escolha de primeira rodada dada para o WR Amari Cooper, não havia nem a esperança de buscar um jogador de qualidade maior no Draft de 2019.

Hoje, ao fim da Semana 14, o Dallas Cowboys está em uma sequência de cinco vitórias seguidas — a maior da NFL no momento, diga-se de passagem — e a tempestade deu lugar para a bonança. O time agora necessita de apenas uma vitória nos próximos três jogos para garantir matematicamente sua vaga na pós-temporada, em um momento em que nem o torcedor mais otimista do Time da América esperava encontrar nessa altura da temporada após o começo ruim.

Como o recorde de 8-5 pode indicar, muitas coisas mudaram do time que ficou 3-5 para esse. Mas o que exatamente? O que foi feito de diferente para que essa sequência de vitórias acontecesse?

 
 
Dak Prescott está jogando melhor

Contestado no começo da temporada, Dak Prescott vem aos poucos deixando as críticas de lado. Comparando o período até a Semana 9 e as cinco vitórias seguidas, Dak vem lançando mais passes (29,8 em média para 36,2), lançando passes mais longos (6,3 jardas por tentativa de média para 7,4) e acertando mais passes (de 63% em média para 75%). Não é por acaso que o número do seu Passer Rating subiu de 86,6 para 103,6.

Esses números do Dak podem ser explicado por uma série de motivos, que vão desde a melhora do jogador em leituras de dentro jogo, a chegada do Amari Cooper e até chamadas melhores da comissão técnica. Em campo, um Prescott mais confiável significa mais oportunidades de correr melhor com a bola, o que nos leva ao segundo tópico.

 
 
O ataque mantém a posse por mais tempo

Uma das marcas do Dallas Cowboys de 2014 até recentemente era correr com a bola, gastar o relógio, cansar a defesa adversária e manter o controle do relógio. O Cowboys de 2018, no entanto, tinha enormes dificuldades de realizar isso. Com seu ataque tendo seguidas campanhas sem conseguir uma primeira descida sequer, a defesa se via pressionada a parar o ataque adversário seguidamente para dar chances ao ataque do Cowboys pontuar. Foi o que vimos na Semana 1, por exemplo, quando a defesa cedeu 16 pontos na partida e o ataque só foi capaz de anotar míseros 8 pontos.

Nessa sequência de vitórias, o jogo virou. Hoje o Dallas Cowboys é o time cujo ataque mais mantém a posse em toda a NFL. Até a Semana 9, no entanto, o time era somente o 21º nesse quesito, atacando durante 29 minutos e 57 segundos em média dos 60 que fazem parte de um jogo inteiro de futebol americano. De lá pra cá, o ataque mantém a posse de bola por incríveis 36 minutos e 14 segundos, o que é basicamente dois quartos e meio de jogo com a bola para você.

Além do já mencionado Dak Prescott, isso também foi capaz diante da melhora do jogo terrestre, que está correndo mais vezes (de 26,6 tentativas por jogo em média para 31,6) e também correndo mais jardas (de 128,8 jards por jogo em média para 138). Essa tendência pode ser comprovada nos números de terceiras descida: se antes convertíamos em média uma terceira descida a cada três tentadas (33,3%), na sequência de vitórias o Cowboys passou a converter uma a cada duas terceiras descidas (50%). Quanto melhor corremos com a bola, mais curtas serão as terceiras descidas e mais fáceis serão de convertê-las.

 
 
A defesa está ainda melhor que antes

Se em 2016 nos dissessem que a defesa de 2018 sem Sean Lee estaria entre as cinco melhores da NFL em jardas cedidas e pontos cedidos, provavelmente mandaríamos a pessoa para um hospício. O que parecia impossível de fato aconteceu.

Para isso acontecer, a defesa não passou a forçar menos jardas e touchdowns do time adversário. Ao contrário, visto que a média de jardas deles passaram de 217,1 para 241,6, enquanto a média de TDs lançados aumentou pouco mais de 30%. A diferença está, de fato, no número de turnovers forçados.

Até a Semana 9, a defesa do Dallas Cowboys só havia interceptado dois passes em toda a temporada, sendo que nenhum deles havia sido por um cornerback. De lá pra cá, a defesa conseguiu seis interceptações, na qual foram importantíssimas para virar o jogo, tal como a de Leighton Vander Esch contra o Atlanta Falcons que possibilitou o touchdown da virada daquela partida. Isso também explica a diminuição do número de punts em média que a defesa está forçando: não é como se estivessem cedendo mais pontos, e sim garantindo turnovers que até então não estavam acontecendo.

 
 
Estão tendo mais dificuldades em correr com a bola

Diante de todos os números citados acima, esse tópico aparece como causa e como consequência deles. Times que não conseguem correr com a bola tendem a passar mais vezes e em situações piores, gerando posses de bola mais curtas — visto que passes incompletos param o relógio — e, no pior dos casos, turnovers. Ao mesmo tempo, times que estão perdendo no último quarto precisam abandonar o jogo terrestre e passar mais a bola para buscar uma reação em um tempo menor. Dentre as duas opções, qual delas se encaixa com a situação do Dallas Cowboys no momento?

Partindo do fato de que todas as cinco vitórias da sequência foram por uma vantagem de somente uma posse de bola, é possível acreditar que a primeira opção seja mais plausível que a segunda. Aproximadamente, os adversários passaram a correr, em média, 11 tentativas e 34 jardas a menos do que corriam contra Dallas até a Semana 9. Se engana quem acha que isso só aconteceu dado a fragilidade do jogo terrestre dos adversários: foram apenas 65 jardas cedidas para o 9º melhor ataque terrestre da NFL em 2018, o New Orleans Saints. Além disso, todos os adversários correram pior contra Dallas Cowboys do que correram em média no restante da temporada.

Da mesma forma que mencionamos no ataque do Dallas Cowboys, correr melhor com a bola facilita terceiras descidas, enquanto correr pior as prejudica. Dessa forma, a defesa do Time da América passou a ceder first downs em somente 34% das terceiras descidas que enfrenta, número bem menor que os 44,4% cedidos até a Semana 9.

 
 
Amari Cooper

Não seria possível escrever esse texto sem o novo camisa 19. Apesar do jogador ter feito sua estreia na derrota para o Tennessee Titans, a mudança de postura do Dallas Cowboys depois da sua chegada é enorme. Em somente números individuais, Amari Cooper lidera a NFL em jardas recebidas (642), first downs (32), jardas após a recepção (32) e touchdowns recebidos (6) considerando o período desde que ele chegou em Dallas. Só isso já é o suficiente para mostrar o que ele trouxe a mais para um ataque anêmico com recebedores pouco confiáveis.

Analisando o ataque do Cowboys antes e depois dele, vimos melhora em média de pontos marcados (20 para 22,7), jardas totais do ataque em média (320 para 386,3), jardas aéreas em média (183,1 para 259,3) e conversão de terceira descida (31,9% para 49,4%).

Os números dizem por si só: a chegada de Amari Cooper melhorou o nível do Dak Prescott, do Ezekiel Elliott, do ataque em geral e até da defesa. Apesar do preço por ele ter sido um pouco salgado, o jogador está fazendo valer o investimento com uma mudança do time de uma forma que jamais prevíamos.

 
 

Diante dos números e exemplos citados, é possível identificar uma série de mudanças de características que possibilitaram ao Dallas Cowboys vencer os cinco jogos em sequência. Sendo assim, a manutenção desses ítens são fundamentais para as expectativas do Cowboys no restante da temporada e, é claro, na pós-temporada.

Gabriel Plat

Curte NFL por escolha e o Dallas Cowboys por amor. Aprecia a boa música e compartilha outro sofrimento: o Botafogo. Um dos participantes do podcast.

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