Opinião

O que esperar de Dan Quinn como coordenador defensivo dos Cowboys?

A pergunta destacada no título do artigo é ambígua: mesmo sabendo que Dan Quinn chega aos Cowboys para trabalhar com pessoas novas, e que isso já tira da equação o fator previsibilidade, é natural querer investigar o passado do treinador. O que se sabe logo de cara é que Quinn já teve a oportunidade de liderar uma equipe ao Super Bowl (SB) como Head Coach. Vamos tentar entender quais são as possibilidades e as esperanças que ele traz para a defesa do Time da América como DC!

Antes de mais nada, para que se possa saber o que esperar de um Coordenador Defensivo* no sucesso de sua função, é necessário defini-la do ponto de vista teórico: “O papel principal do coordenador defensivo é gerenciar a lista de jogadores defensivos, supervisionar os assistentes técnicos, desenvolver o plano de jogo defensivo e chamar as jogadas da defesa durante o jogo. O coordenador defensivo geralmente gerencia vários assistentes técnicos, cada um dos quais é responsável por várias posições defensivas na equipe (como a defensive line, os linebackers ou os defensive backs). Um coordenador defensivo de sucesso costuma ser um trampolim para a posição de técnico principal.

De 2016 a 2019 o Dallas Cowboys contou com a dupla Jason Garrett (Head Coach) / Rod Marinelli (Defensive Coordinator), que foram substituídos por Mike McCarthy (Head Coach) / Mike Nolan (Defensive Coordinator) em 2020. Ao final da temporada 2020 Mike Nolan perdeu seu emprego e, de forma breve e objetiva, vamos tentar entender os porquês de sua demissão e o que Dan Quinn, o novo contratado, tem a oferecer.


A demissão de Mike Nolan

 

Neste período de 5 anos os Cowboys atingiram os playoffs apenas 2 vezes, perdendo para o Green Bay Packers em 2016 na rodada divisional (31-34) e para o Los Angeles Rams também na rodada divisional em 2018 (22-30), após passar pelo Seattle Seahawks (24-22) no Wild Card, ambos sob a batuta da dupla Garrett/Marinelli. Na temporada regular deste mesmo período o time acumulou 40 vitórias e 24 derrotas no período 16-19 (aproveitamento de 62,5%) e 6 vitórias e 10 derrotas na temporada 2020 (aproveitamento de 37,5%).
Uma breve construção dos principais números defensivos do time nos últimos 5 anos pode nos dar alguns indícios interessantes sobre o trabalho de Mike Nolan:

 

    (Use as setas para ver todos os gráficos)

    Embora o número de passes interceptados na defesa (10) apresentasse uma tendência de alta, igualando inclusive os números do melhor ano da dupla Garrett/Marinelli, o número de passes defendidos  por um jogador da defesa caiu, apresentando o pior desempenho em 5 anos. Quando se troca o comando do time espera-se números melhores que os apresentados pelos antecessores; É curioso notar que em ambas as temporadas em que os Cowboys atingiram os playoffs, 16 e 18, ambos os quesitos não foram os melhores em 5 anos.

     

       

      Os números de jardas de retorno após recuperação de fumble é de longe o melhor aspecto do trabalho da equipe defensiva liderada por Nolan: contando com a ajuda de Jaylon Smith (21 jardas), Aldon Smith (78 jardas) e Anthony Brown (29 jardas) e com o desfavor de Ben Dinucci (perda de 9 jardas), Andy Dalton (perda de 2 jardas) e L. P. Ladouceur (perda de 11 jardas), 2020 foi o melhor ano da defesa neste quesito, ultrapassando inclusive os números do melhor ano da dupla Garrett / Marinelli (2018). Assim como o número de jardas de retorno, o número de touchdowns após recuperação de fumbles foi o melhor dos últimos 5 anos (2 TDs).

        O número de tackles totais é espantosamente mais alto que os obtidos pela linha defensiva coordenada por Marinelli. Quando se observa nos detalhes, no entanto, fica nítido que a qualidade dos tackles deixou a desejar. Os números de sacks, de tackles para perda de jardas e o de QB hits diminuiu consideravelmente quando comparados aos anos anteriores.

        Embora os números detalhados mostrem que Mike Nolan foi no máximo um coadjuvante de peso na desastrosa campanha do Dallas Cowboys na temporada 20/21, estes mesmos números escondem um fato estarrecedor e que talvez tenha sido o gatilho para sua demissão sumária após apenas um ano de trabalho, comportamento que não é comum partindo da gestão da franquia: a média de pontos cedidos por partida. Segundo a ESPN, a equipe cedeu em média 29,6 pontos por partida, terminando a temporada em 28º no quesito em um total de 32 equipes. A unidade comandada por Nolan, que permitiu 473 pontos em 16 jogos ao longo da temporada, foi simplesmente a pior da história em 60 anos dos Cowboys. É fato que, embora a defesa apresentasse números, se não bons, pelo menos nos mesmos níveis dos apresentados pela equipe anterior, o peso acachapante de um recorde negativo como este pode ter custado o cargo ao ex-Coordenador Defensivo.

        A influência das lesões no decorrer da temporada e a qualidade dos jogadores disponíveis podem e devem ser discutidas, mas este é assunto para um novo artigo.

        E para o futuro? O que nos espera? Chegou a hora de falarmos de Dan Quinn.

        LEIA MAIS: Dan Quinn é o novo Coordenador Defensivo do Dallas Cowboys. Conheça 10 curiosidades sobre ele


        A contratação de Dan Quinn

         

        Dan Quinn esteve à frente do Atlanta Falcons como Head Coach por 5 temporadas completas, de 2015 a 2019, sendo demitido após 5 jogos na temporada 20/21. Comandou a equipe por 85 partidas atingindo um aproveitamento de 50,6%. A história de Dan Quinn e Dallas Cowboys se assemelham muito nos últimos 5 anos de suas histórias na liga: Quinn também levou os Falcons à pós temporada apenas duas vezes, com o atenuante de ter sido campeão da NFC em 2016, o que lhe credenciou para a disputa do SB.

        Analisando especificamente o período da carreira de Quinn atuando como Coordenador Defensivo, que se divide entre College (11/12 e 12/13) e NFL (Quinn foi DC de um dos técnicos mais inteligentes e longevos da NFL, Pete Carroll, no Seattle Seahawks nas temporadas , 13/14 e 14/15), os números animam: sob o comando da dupla Quinn/Carroll os Seahawks chegaram ao SB em dois anos seguidos (13/14 e 14/15) vencendo os Broncos de Peyton Manning na temporada 13/14 por um acachapante 43-8, sendo o time que menos cedeu pontos para os adversários em toda a temporada (média de 14,4 pontos por jogo), e perdendo para os Patriots do Inominável na temporada 14/15 por um placar apertado de 24-28, sendo pelo segundo ano consecutivo o time que menos cedeu pontos para o adversário em toda a temporada (média de 15,9 pontos por jogo).

        Para promover a comparação destes dois anos de Quinn à frente da Linha Defensiva dos Seahawks, selecionei arbitrariamente os dois últimos anos dos Cowboys, um com a coordenação de Marinelli e outro com a coordenação de Nolan.

          A diferença entre os Seahawks de Quinn e os Cowboys de Marinelli e Nolan é importante, principalmente no ano da conquista do SB (2013). A se colocar na balança os jogadores e as suas habilidades atléticas disponíveis para o DC nas campanhas vitoriosas de 13/14 e 14/15, mas os números são animadores.

           

            O número de fumbles recuperados também é outro aspecto que chama a atenção nos Seahawks de Quinn em comparação aos Cowboys de Marinelli e Nolan. Dá pra dizer, no mínimo, que a defesa joga com mais atenção a ponto de conseguir forçar turnover quando tem a oportunidade. Um ponto de atenção ao trabalho de Quinn nesse mesmo período é a capacidade de, além de ganhar a posse, ganhar jardas importantes para a campanha que se iniciará (jardas de retorno após recuperação de fumble).

             
             

              Falamos sobre a quantidade total de tackles, principalmente da defesa de Nolan na temporada 2020. Mas o comparativo de qualidade dessa quantidade alta de tackles não foi muito animadora. Muita quantidade, pouca objetividade. Analisando os números específicos em sacks, tackles para perda de jardas e QB hits da equipe comandada por Quinn parece que permanecem no mesmo patamar, mas quando analisamos o número total de tackles percebemos que a qualidade do jogo é muito maior em proporção. São menos tackles para se atingir os mesmos níveis de Marinelli e Nolan. Mantendo a pegada de muitos tackles e direcionando essa energia toda para incomodar o QB adversário, a tendência é que a defesa melhore muito em relação aos anos anteriores. A ver.

              Números a parte, Dan Quinn é um vencedor. Chegou ao SB 3 vezes durante a carreira, duas como DC e uma como HC. Espírito vencedor é o primeiro passo em direção ao sucesso.

              Números inclusos, Dan Quinn parece cumprir bem seu papel como DC quando comparamos seu desempenho no Seattle Seahawks de 2013 e 2014 com o que se espera de um DC de sucesso: “(…) desenvolver o plano de jogo defensivo e chamar as jogadas da defesa durante o jogo. (…)”.

              Um coordenador defensivo de sucesso costuma ser um trampolim para a posição de técnico principal.”

              Será?

              Obrigado pela companhia e se você gostou do texto curte, comente. Na sua opinião, Dan Quinn é ou não é uma boa contratação para a temporada que está por vir?

              GO ‘BOYS!

              *Tem curiosidade para saber mais sobre qual o papel de cada treinador e assistente técnico das equipes da NFL? Trarei para vocês informações mais detalhadas em artigos futuros, mas este site abrange de uma forma resumida e objetiva as funções de cada um.

              Thiago Malagrino

              Existe mais matemática e menos coincidência no futebol americano do que você imagina! Vamos ver porque? Vem comigo! Dallas Cowboys desde a década de 90, from here to eternity!

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