Opinião

Não há nada que represente mais o Time da América que o protesto do Dallas Cowboys

No ano de 1978, o filme com os melhores momentos do Dallas Cowboys daquela temporada foi introduzido com a seguinte fala do narrador John Facenda:

“Eles aparecem na televisão com tanta frequência que seus rostos são tão familiares ao público como os dos presidentes e estrelas de cinema. Eles são o Dallas Cowboys, o Time da América.”

O que seria algo despretensioso acabou pegando e, desde então, o apelido se tornou um símbolo do Dallas Cowboys. Por mais que sempre tentem tirar esse apelido na primeira derrota ou temporada ruim que o Cowboys tenha, já não há mais como mudar.

Se olharmos para o histórico recente, podemos ver que o Dallas Cowboys e os Estados Unidos andam juntos lado a lado — tanto para o bem quanto para o mal.

Nos anos 90, o Dallas Cowboys teve seus últimos anos de ouro. Três Super Bowls, um time de fazer inveja a qualquer outro da liga e uma das maiores dinastias da história da NFL. Já os Estados Unidos havia acabado de vencer a Guerra Fria, estava com a economia sólida e uma situação relativamente estável. No entanto, tudo mudaria na década seguinte.

Nos últimos anos, a economia estadunidense passou por diversas crises econômicas e políticas, desde o presidente George W. Bush até a situação atual com Donald Trump. Já o Dallas Cowboys, veja só, oscilou da mesma forma: foram poucos os brilhos que o time teve de 2000 pra cá e, ainda assim, nada que se comparasse a situação que o time se encontrava no passado.

Desde o discurso de Donald Trump na última sexta-feira criticando os jogadores que estavam protestando durante o hino norte-americano, o Dallas Cowboys foi um dos poucos times a se manter estranhamente quieto sobre o assunto. Antes mesmo da rodada de domingo, vários times já haviam soltado notas de repúdio ao discurso de Trump. Jerry Jones, o dono que gostava de opinar sobre tudo, se manteve calado.

Como já era sabido que Jerry Jones apoiou financeiramente a campanha presidencial de Trump, poderíamos esperar que o Dallas Cowboys adotasse uma postura oposta ao restante da liga e proibisse seus jogadores de fazer qualquer tipo de protesto. Na verdade, era isso mesmo que eu esperava que fosse acontecer, dado o histórico de Jerry Jones e a declaração de Jason Garrett sobre o caso.

O que vimos, no entanto, foi algo diferente de todos os protestos. Assim como outros times fizeram, o Dallas Cowboys entrou em campo com seus jogadores, comissão técnica e o dono Jerry Jones. Como mais do mesmo, eles entrelaçaram os braços. Mas isso não era o suficiente para o Time da América.

Todos, inclusive Jerry Jones, ajoelharam por alguns segundos antes do hino nacional. Repetindo: antes do hino nacional. O protesto do Dallas Cowboys foi feito para agradar as duas partes: ao mesmo tempo que o time mostrou estar em sintonia com o restante da NFL, ele foi feito sem desrespeito nenhum ao hino ou à bandeira, já que todos estiveram perfilados de pé e visivelmente emocionados. Jogada de mestre.

É possível ver essa situação e criticar Jerry Jones por demagogia sim. Mas ao vermos sua postura como dono do time ao longo de todos esses anos, a única coisa que podemos ter certeza é que ele nunca fez questão de fazer média com imprensa ou torcedores em geral para melhorar sua imagem. Afinal, todos sabemos o tamanho do ego do senhor Jones.

A imagem pré-jogo do Dallas Cowboys representou muito mais do que aderir a um simples protesto. A forma como ela foi feita mostrou que o time entende ambos os lados dessa briga política e acredita que é possível que possa haver um consenso sem que haja um desrespeito. E por mais que todos os 32 times da NFL possam ter pensado dessa forma, apenas um conseguiu executá-lo da melhor forma possível.

O meu Time da América. O nosso Time da América.

Gabriel Plat

Curte NFL por escolha e o Dallas Cowboys por amor. Aprecia a boa música e compartilha outro sofrimento: o Botafogo. Um dos participantes do podcast.

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