Opinião

Muito obrigado, Tony Romo.

Hoje você finalmente deixou o Dallas Cowboys. Cá entre nós, eu jamais esperaria que esse dia fosse chegar tão cedo.

Afinal, você me fez feliz. Lembra daquele jogo contra o New York Giants em 2015, na primeira semana? Os caras te deram um minuto no relógio, não é? Coitados. Mais do que suficiente para você achar Jason Witten na end zone e levar o AT&T Stadium ao delírio. E aquele Monday Night Football contra o Buffalo Bills, hein? Você lançou cinco interceptações e ainda sofreu um fumble, é verdade. Mas você também comandou a campanha final que deu a vitória ao time.

Não dá pra esquecer também da sua última grande vitória, não é mesmo? Aquele jogo de playoffs contra o Detroit Lions foi incrível. Ah se foi. Perdíamos por 20 a 7 no terceiro quarto, mas não precisávamos nos preocupar, pois tínhamos você. E você fez o que sabe fazer de melhor: decidir jogos. Aquele passe final para o touchdown de Terrance Williams e aquela sua comemoração no chão está guardada na memória de todos.

Também não posso deixar de lembrar que você já me fez passar raiva. Bastante. Lembra em 2013, quando enfrentávamos o Green Bay Packers em casa? Fomos ao intervalo ganhando por 20 pontos, mas o time implodiu e você lançou duas interceptações nas últimas duas campanhas do Dallas Cowboys, sacramentando uma das derrotas mais dolorosas que eu já vi. Cara, essa machucou de verdade.

E a eliminação para o Giants nos playoffs de 2007? Nós éramos os favoritos, Romo… Custava ir viajar para o México com a namorada depois da temporada? Foi difícil de engolir isso, ainda mais vendo o rival levantar o Troféu Lombardi semanas depois. Aquele era nosso, Romo.

Mas vamos falar a verdade: não dá pra jogar toda a culpa em Tony Romo pelos fracassos do time nos últimos anos. Sabe o jogo contra o Packers mencionado? A defesa cedeu cinco touchdowns em cinco campanhas consecutivas de Green Bay, que estava jogando com o quarterback reserva. O ataque colocou Romo pra lançar 48 bolas em um jogo que o time precisava correr para gastar o relógio.

E assim foi a vida de Tony Romo pelo Dallas Cowboys. Desde 2006, quando assumiu a titularidade, Romo foi bombardeado pela imprensa e até por próprios torcedores. Em boa parte das vezes, a culpa nem realmente era dele.

Aqui entra minha admiração pelo jogador e pela pessoa. Não basta sofrer toda essa pressão constante enquanto estava jogando. Você aguentava tudo isso calado. Nada de responder repórter, de usar as redes sociais para criticar fãs, de xingar seus companheiros de time. Nada.

Você passou por tudo isso se provando em campo. Te chamam de amarelão? É porque não viram que você é o jogador com mais viradas no último quarto da NFL desde que assumiu a titularidade em 2006. Te chamam de ruim? É porque não perceberam que você tem o terceiro melhor rating da história da NFL.

Você fez questão de jogar isso na cara dos que te criticam? Não. Você abaixou a cabeça, foi para o dia seguinte e voltou a treinar. Eu queria ser como você, Romo. Você nunca demonstrou que as críticas te abalam. Olha que não foram poucas.

O mais impressionante disso é que você nunca desistiu. E isso dá pra ver no seu olhar durante os touchdowns, as vitórias. Você transpirava emoção, vontade de vencer, de superar todas as adversidades, tal como um filme de sessão da tarde, onde o mocinho termina com a garota.

Mas seu momento em Dallas não terminou assim. Em 2013, aconteceu um jogo que praticamente define toda sua carreira. Enfrentando o Denver Broncos de Peyton Manning que viria a ser um dos melhores ataques da história da NFL, você fez o possível e o impossível naquele jogo. Manning lançou para 400 jardas e 4 TDs? Você lançou para 500 jardas e 5 TDs. Seu jogo terrestre não funcionou, então a responsabilidade era só sua.

Com pouco mais de dois minutos no relógio, o jogo estava empatado em 48 a 48 e você tinha a chance de ter o melhor jogo da história de um quarterback da NFL se levasse o time à vitória. Na segunda jogada da campanha, no entanto, Tyron Smith não segurou a pressão e foi empurrado em sua direção. Na hora que você foi fazer o passe, você pisou acidentalmente no pé de Smith, que não te deu equilíbrio o suficiente para o passe. Interceptação e derrota.

Não basta você ter superado um jogo terrestre inexistente e uma defesa que não cedeu nenhum punt no jogo. Não basta ter lançado para 500 jardas e cinco touchdowns. Pra você, o ótimo não é suficiente. Se te criticam hoje pela quantidade de lesões, é porque ontem você estava dando a vida quando o Dallas Cowboys não te deu um time à altura.

Hoje você finalmente deixou o Dallas Cowboys. Hoje você finalmente deixa os gramados de Dallas para entrar para história. Não como o melhor, mas sim como o que nunca desistiu. O que nunca desistiu de superar lesões, críticas, tudo.

Obrigado por tudo, Tony Romo. Foi uma honra tê-lo como quarterback do Time da América e é uma honra te ter como ídolo, como uma pessoa que me inspira.

Boa sorte em seu futuro, Romo. Você merece.

Gabriel Plat

Curte NFL por escolha e o Dallas Cowboys por amor. Aprecia a boa música e compartilha outro sofrimento: o Botafogo. Um dos participantes do podcast.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo