Opinião

Micah Parsons: erro ou acerto?

Ontem foi o primeiro dia do draft. Cá para nós, que coisa mais sensacional esse sistema. Na minha opinião, valoriza a educação, exigindo a passagem pela escola e universidade e, ao mesmo tempo, a forma como a ordem das escolhas é determinada traz muita competitividade ao esporte, diminuindo eventual efeito que os impérios econômicos poderiam acarretar.

Dito isso, o Dallas Cowboys entrou no primeiro dia de recrutamento da NFL com a 10ª escolha geral, com muitas necessidades, a maioria de defesa. Consensualmente, podemos dizer que toda a secundária e linha defensiva, em especial cornerbacks e defensive linemen, eram claras e históricas necessidades. Mas há muitas outras.

Dallas precisava melhorar sua defesa contra o jogo aéreo, já que não possui titulares consolidados na unidade de cornerbacks, bem como registrou a pior temporada contra o jogo terrestre no ano de 2020.

Tacklear também é um problema sério nessa equipe, parecendo que a defesa por vezes joga num vergonhoso soft mode. Ou seja, não faltam buracos a serem tapados.

Chegamos no dia de ontem com fortes  indícios de que a escolha recairia entre os cornerbacks Patrick Surtain II e Jaycee Horn, o linebacker Micah Parsons e o offensive lineman Rashawn Slater. Havia o rumor de que Jerry Jones estaria apaixonado pelo excelente tight end Kyle Pitts, mas dificilmente este atleta chegaria na pick 10. Enfim, não fugiríamos desses nomes.

As minhas torcidas eram claras, recaindo em cornerbacks, em especial Patrick Surtain II.

Durante a noite do draft, na oitava escolha veio o primeiro susto com Jaycee Horn sendo elegido pelo Carolina Panthers. Com o coração acelerado, pensei: calma, Denver escolherá um quarterback.

Aí veio a ducha de água fria, com os Broncos recrutando Patrick Surtain II. Amargou meu chopp na hora.

Tenho certeza que esse sentimento povoou o war room dos Cowboys. Ou não?

Só que o espírito de Sonny Weaver Jr incorporou no front office dos Cowboys. Dallas sabia que os Eagles desejavam uma troca por um jogador de ataque. Houve conversas sobre isso durante a semana. Os Cowboys queriam um de defesa. Ao mesmo tempo, a família Jones não gostaria de uma troca para uma posição muito além de sua original, com medo de que os seus melhores jogadores avaliados já tivessem saído. Mais, DeVonta Smith seria provavelmente escolhido pelos Giants na pick 11 e, para a próxima temporada, certamente a franquia de Nova York representa um adversário mais difícil. Então, a troca caiu no colo dos Cowboys e Philadelphia entregou a 12ª e a 84ª desse ano pela escolha 10.

Segundo a escala Jimmy Johnson de avaliação do valor das escolhas no draft, a 10ª valeria 1300 pontos. A 12ª escolha estaria cotada em 1200 e a 84ª exatos 170. Você pode ver a pick value chart do Pro-Football-Reference aqui.

Portanto, pelo clássico sistema de avaliação do valor das escolhas, a troca foi proveitosa. Claro que não é só isso, ela se deu dentro da divisão, foi claramente por um determinado jogador que pode incomodar muito e uma série de outras situações. Os Eagles gostaram muito da troca também, sendo típico caso de win-win.

Analisando friamente, foi um ótimo movimento, pois Dallas ganhou uma escolha de terceira rodada ainda este ano (temporada de cap limitado) e sabia que entre a sua original e a que acabou sendo a efetiva os jogadores que  pretendia escolher ainda estariam à disposição. Também barrou a ascensão do seu inimigo de divisão mais proeminente para 2021. Houve ganho claro. Se os jogadores escolhidos terão o aproveitamento desejado, bom, isso só o futuro nos dirá.

E finalmente chegou a hora da 12ª escolha e o nome escrito no cartão por foi o do linebacker Micah Parsons, de Penn State.

Particularmente, eu gostei muito. Meus filhos acordaram com a minha imediata festa. Teria feito o mesmo.

Porém, sempre tem o ranço. Muitos da mídia especializada, especialmente norte-americana, preferiam Rashauwn Slater na 12ª.

A maioria das críticas diz respeito aos problemas extracampo e, especialmente, a posição escolhida.

A questão extracampo, imagino eu, foi ponderada pelo front office. Não vou entrar nela, uma vez que conheço superficialmente, bem como para evitar desconsiderações ou supervalorizações. Espero apenas que ela tenha sido muito bem avaliada.

Por outro lado, linebacker era a principal necessidade? Não. Mas offensive lineman também não era.

Então, qual é a treta?

Ocorre que, consoante a avaliação geral neste esporte, linebacker não é uma posição premium, enquanto offensive tackle sim.

E então imediatamente surge aquele fantasma do passado. Dallas escolheu (ou teve a possibilidade de escolha) entre o top-10 duas vezes nesta década. Chegaram ao The Star um running back (Ezekiel Elliott) e agora um linebacker (Micah Parsons). Nenhum deles é de uma posição premium. 

Com alguma controvérsia, para a maioria dos analistas as posições premium no draft são quarterback, defensive end, wide receiver, tackle e cornerback. Um dos aspectos que levam em consideração, além do impacto que a posição tem numa equipe, é o fato de uma média de maior longevidade na liga. Ou seja, são posições em o jogador atuará com maior qualidade por mais tempo.

Salvo exceções e jogadores geracionais, nas demais o tempo de permanência na liga com um futebol de nível elite, aliado ao impacto que as posições possuem no campo de jogo, é substancialmente menor.

Ainda assim, mesmo com essas ressalvas, acredito que esse ranço não é justificado.

A escolha de Micah Parsons faz sentido por muitos aspectos. Ele é um excepcional prospecto, basta ver que em boa parte das boards ele está avaliado como um verdadeiro blue chip.

Além disso, segundo o que informaram, Dallas o tinha acima de Jaycee Horn e Patrick Surtain II, embora isso não signifique que ele seria o escolhido em detrimento dos cornerbacks citados. Então, na avaliação do front office ele era o best player available. Também, é evidente que a necessidade de melhorar a defesa contra o jogo corrido é maior que os problemas encontrados na linha ofensiva.

No geral, sempre fica aquela coisa de que é muito difícil encontrar um tackle ou um guard espetacular como Rashawn Slater depois da 20ª escolha do draft, posição que toda equipe pretende estar no futuro, pois do contrário estaríamos diante de um fracasso. É dolorido deixar passar um jogador como esse, que seria imediatamente titular e com possibilidade de assim seguir por uma década.

Particularmente, gostei da escolha. Também gostaria do Slater, mas um pouco menos.

Esse post não veio para analisar o atleta e suas características. Mesmo assim, está evidente que Micah Parsons poderá ser o jogador geracional que Dallas tanto precisa e especialmente um líder defensivo e um tackleador implacável, com possibilidade de aumentar imediatamente o nível da defesa e impactar positivamente a performance de seus colegas, tornando-a muito mais temida do que hoje. Mais do que isso, a franquia dá um recado claro que não está satisfeita com Leighton Vander Esch e Jaylon Smith enquanto sua dupla de linebackers, sendo essa uma avaliação idêntica à minha.

E ver ele vibrando por ter sido recrutado pelo seu time do coração não tem preço. A sua alegria e emoção foram contagiantes. Quem sabe isso não seja um algo a mais para deixar em campo.

Enfim, seja bem vindo Micah Parsons!

Saudações e Go Cowboys.


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Diego Barros

Torcedor do Dallas escondido no velho oeste do Rio Grande do Sul. Veterano na torcida desde a década de 90, louco para recuperar o Lombardi.

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