Opinião

Até quando seguiremos com Jason Garrett?

Chegamos aos quatro últimos jogos que antecedem os playoffs e nada está decidido na NFC East. Uma coisa é certa: o New York Giants está eliminado. Outra é quase certa: somente quem vencer a divisão terá vaga na pós-temporada, sendo praticamente impossível se classificar via wildcard. Nesta mesma toada, o Washington Redskins depende de um milagre digno de canonização automática para seguir adiante. De resto, Dallas Cowboys e Philadelphia Eagles disputam a vaga, inclusive com confronto direto entre as equipes, com a vantagem neste momento para a equipe texana, que tem o recorde de 6-6 contra 5-7 da equipe da Pensilvânia.

Mas, afora a disputa equilibrada pela única vaga disponível, outro assunto domina a mente dos amantes do futebol americano e daquele que se interessa por esta divisão em especial. Diz respeito ao cargo de treinador do Dallas Cowboys.

Sobram motivos para que o head coach Jason Garrett seja demitido imediatamente.

Ele é o treinador de fato desde novembro de 2010 e o resultado de campo não trouxe nada mais relevante que duas vitórias em wildcard e três derrotas no divisional round. É muito pouco.

Usando um comparativo para fins de contextualização, apenas cinco técnicos em toda a NFL estão a mais tempo no cargo: Bill Belichick (desde 2000), Sean Peyton (desde 2006), Mike Tomlin (2007), John Harbaugh (2008) e Pete Carroll (2010 – meses ante de Garrett). Todos já venceram pelo menos uma vez o Super Bowl.

Em campo, se levarmos em conta as atuações da defesa, ataque e times especiais, o Cowboys deu um passo para trás de 2018 para 2019, mesmo com um elenco potencialmente melhor que o da temporada anterior.

Ainda há plenas chances de classificação e até mesmo de título, mas existe um desgaste enorme entre os torcedores e o treinador, com a imensa maioria pedindo a sua saída.

A mídia especializada também é praticamente unânime em afirmar que Jason Garrett não pode continuar.

Enfim, o clima é de final de festa para Garrett.

Porém, falar sobre a saída de Jason Garrett é fácil. O difícil é justificar os motivos para ele ainda seguir na comissão técnica do Cowboys.

Advirto que aqui escreve um torcedor que já está cansado do seu treinador principal e gostaria de sua saída. Todavia, quero relatar uma abordagem de administração do assunto, compartilhando algo que entendo ser a ideia da franquia.

Inicialmente, há de se afirmar que existe uma relação pessoal entre Jason Garrett e a família Jones. O pai de Garrett (James William Garrett Jr) foi olheiro do Cowboys. Já Jason Garrett jogou como quarterback, foi coordenador ofensivo e técnico adjunto, antes de se tornar interino e, um pouco mais adiante, head coach do Dallas Cowboys. Aliás, como jogador (embora backup), ele tem dois anéis do Super Bowl (XXVIII e XXX). Resumindo, seu pai esteve com o Cowboys de 1987-2004 e ele como jogador entre 1993-1999 e nos demais cargos citados de 2007 até agora. Aproximadamente 29 anos de relacionamento.

Talvez isso seja determinante para que lágrimas tenham saído dos olhos de Jerry Jones na entrevista pós-jogo contra o Bills. O proprietário e general manager viu que a hora da separação chegou. Mesmo assim, há um profundo respeito, e Jerry Jones disse recentemente que é um “Jason Garrett man”. Por conta do relacionamento construído em tanto tempo, cumprir o tempo do contrato é uma situação que não surpreende.

Aliás, é a cara da franquia manter os veteranos que de alguma forma estabelecem uma relação mais próxima com a família Jones até o último suspiro de seus contratos ou carreiras. Se o atento leitor fechar os olhos neste momento verá algumas imagens de jogadores que casam totalmente com essa afirmação.

Não que eu imagine que Dallas manterá o seu atual treinador para a temporada 2020. Eu acredito simplesmente que ele seguirá até o final da atual e, uma vez findada, as partes tomarão rumos opostos (ressalvado um eventual título obtido no Super Bowl).

Além disso, a decisão de mantê-lo tem relação direta com os potenciais candidatos domésticos para assumir como técnico interino. Vamos voltar alguns anos e recordar que em 2010 Jason Garrett assumiu nessa condição no lugar de Wade Phillips, somente sendo efetivado no ano seguinte. A contratação de alguém de fora depende de muitos aspectos, seja de disponibilidade, seja de conhecimento de grupo, sendo que esperar o final da temporada para isso é algo muito mais lógico. A corrida nesta altura da temporada com alguém de fora não faz sentido algum.

E não podemos comparar a nossa situação com a do Panthers, que ontem demitiu Ron Rivera e deixou Perry Fewell (técnico da secundária) como interino, já que a equipe de Carolina já está virtualmente eliminada desta temporada.

Uma troca doméstica hoje nos remete para três candidatos: Kellen Moore, Rod Marinelli e Kris Richard.

A ordem adiante segue um critério de cargos e não de quem os ocupa.

Numa situação normal, dada a vocação ofensiva da franquia, o coordenador ofensivo deveria ser a ficha um. Foi em 2010. Mas a aposta em Kelen Moore é de altíssimo risco. Moore está no seu primeiro ano como coordenador ofensivo e segundo como treinador (foi treinador de quarterbacks em 2018), com bons trabalhos, mas nada que entusiasme qualquer pessoa a fechar os olhos e escolhê-lo sem receio. A sua falta de experiência e o fato de estarmos na reta final da temporada são elementos decisivos para afastá-lo como aposta viável. A escolha dele poderia gerar atrito com os treinadores mais experientes e até mesmo dificuldades de controle do vestiário.

A ficha dois seria do coordenador defensivo. Novamente, o candidato é fraco. Pelo que consta, Marinelli já deixou algumas das funções essenciais para Kris Richard, como as chamadas de jogo, e sua defesa visivelmente decresceu de rendimento de 2018 para 2019. Se antes havia os hot boyz, hoje possivelmente tenhamos algo como os soft guys. Além disso, ele errou feio no draft de 2019, principalmente na escolha de Trysten Hill em detrimento de uma série de outros jogadores (especialmente safeties), fato que não foi isolado na sua carreira, já que draftar Taco Charlton na primeira rodada de 2017 tem as suas impressões digitais gravadas (TJ Watt está destruindo na defesa do Stellers…).

Por fim, Kris Richard teve um 2018 bastante promissor. Chegou a ser entrevistado por 3 equipes na offseason para o cargo de head coach e sua permanência em Dallas ficou ameaçada. Ele renovou e teve seu status elevado, passando inclusive a (supostamente) fazer as chamadas defensivas. Porém, em 2019 seu desempenho caiu muito de qualidade. Está certo que ele ganhou poucas peças para a secundária, mas o diagnóstico geral é de declínio. Dificilmente será chamado para entrevistas para o cargo de head coach nesta próxima pós-temporada. Aliado a isso, e esta é uma impressão muito pessoal, ele tem um temperamento que transparece certo destempero, visível nas suas atitudes na sideline. Se esta característica pode ser enaltecida por alguns para motivar os jogadores, e quem sabe seja essencial para alguns treinadores de posição, acredito que ela não casa nada bem para o head coach, sendo que há necessidade de muita serenidade em momentos de extrema pressão para que a tomada de decisões seja preservada.

Tenho convicção de que fizeram essa (e outras, é claro) leitura(s) e entenderam que uma mudança precisa ser feita, porém, sem ser com qualquer dos treinadores da casa. Pelo que se vê nas declarações, na mente dos Jones e de Will McClay a corrida deste ano com Jason Garrett possui mais chances de resultado do que com qualquer outro que hoje está em Dallas, ou que nenhum deles fará a diferença substancial para justificar uma troca agora.

Por isso, há necessidade de espera. Pretendem contratar um treinador, avaliando a posição na offseason, com o que estiver à disposição no mercado ou até mesmo mordendo algum rival.

Inclusive, se escolhessem um interino, há um enorme risco: e se um deles assume e dá certo? Mesmo não ganhando o Super Bowl, mas imaginemos que um deles se torne o interino e o time imediatamente melhore de performance. Haverá uma pressão para que o técnico seja efetivado e, talvez, o plano maior, a guinada de rumo com um treinador completamente novo, vá por água abaixo. E, nesse quadro, provavelmente existirá alguma dificuldade em manter esse interino, ou no mínimo algum atrito ou ruído, interno ou externo. Permaneceria uma constante pressão sobre o novo treinador em comparação ao interino que, talvez, fizesse parte do coaching staff. Muito arriscado.

Resumindo, acredito mesmo que Dallas irá começar a temporada de 2020 com um novo treinador e com alguma mudança entre os coordenadores e técnicos de posição.

Embora o assunto seja um pouco avançado para o momento, já que temos mesmo é que pensar no jogo contra o Bears e nas luvas do Dak Prescott para enfrentar o frio de Chicago, não posso deixar de – prematuramente – antecipar o horizonte da offseason.

No meu cenário ideal, haveria uma profunda mudança. Inclusive de filosofia. Treinador vindo do College e novos coordenadores ofensivo e defensivo. Mas isso dificilmente ocorrerá, uma vez que Dallas é uma franquia com mentalidade mais conservadora. Não duvido da contratação vinda do College, mas acho difícil a mudança significativa de filosofia e de coordenadores. É o meu desejo.

Acredito mais numa mudança de treinador, quem sabe até surpreendendo a todos, com alguém que está em alguma equipe da NFL, talvez até com passagem por Dallas em algum momento de sua carreira, mantendo-se a maioria dos cargos abaixo do head coach.

Mas, o meu verdadeiro sonho, é Dallas vencer todas as partidas a partir de agora, ver o Jason Garrett levantar o Lombardi, gritar How ´Bout Them Cowboys no microfone do Hard Rock Stadium e, logo após, ainda na coletiva, afirmar que está cansado, desgastado e que não tem interesse em renovar.

Mas isso, meus amigos, é sonho. Normalmente fica nessa esfera.

Saudações e Go Cowboys.


Seja um apoiador do Blue Star Brasil e garanta uma série de benefícios! Veja como participar aqui.

Diego Barros

Torcedor do Dallas escondido no velho oeste do Rio Grande do Sul. Veterano na torcida desde a década de 90, louco para recuperar o Lombardi.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo