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OPINIÃO | Carta aberta à Tony Romo

Ontem, no dia 15 de novembro de 2016 eu tive um dos dias mais tristes da minha vida esportiva. Nesta noite fria em São Paulo, vejo no Twitter que Tony Romo daria uma coletiva de imprensa. Logo pensei: essa coletiva deve ser para ele mesmo se anunciar como reserva e tirar a pressão de cima do Dak Prescott. Dito e feito, mas não da maneira que eu pensei.

Romo chegou à coletiva de imprensa cabisbaixo, com um semblante sério, e disse que iria ler uma carta que ele mesmo havia escrito e que não responderia nenhuma pergunta. Sinceramente, o achei estranho, sempre o vi sorrindo em coletivas, mesmo após duras derrotas.  Quando ele começou a falar, eu prestei atenção em cada palavra, e parecia que eu estava sendo atingido por facadas no peito… uma após a outra. Com isso resolvi escrever um carta a para expor meus sentimentos.

Carta aberta à Tony Romo.

Querido Romo, meu maior ídolo de todos os esportes.

Ontem foi uma noite extremamente difícil para mim. Eu acompanho o Cowboys desde 2006, o mesmo ano em que você estreou com titular. E para mim é difícil imaginar que sua era no time possa acabar dessa forma.

Você nunca foi respeitado pela imprensa, pelos adversários e até por uma parte da torcida do Cowboys da forma que deveria. Sua carreira até hoje, injustamente, ficou marcada por “amarelão”.

Todos dizem que as suas costas são fracas e que você é de vidro, mas todos se esquecem que você carrega esse time (a maior franquia de todos os esportes) nas costas há dez anos. Esquecem também, que mesmo com times ruins, você nos levou aos últimos jogos de temporada regular com chances de classificação. Seus números são fora de série, terceiro maior QB Rating da história da NFL, detentor de inúmeros recordes da franquia, quinta maior porcentagem de passes completados da história, um dos melhores QBs no 4º período, um líder dentro e fora de campo. Mas tudo isso não parece ser importante para aqueles que o criticam.

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Depois de vários anos com times fracos, em 2014 você teve um time que te ajudasse, você ficou em segundo na votação de MVP da temporada e o time foi para os playoffs. Perdemos em Green Bay mesmo com o jogo maravilhoso que você fez. Com seus números naquele jogo fora de casa, nenhum time jamais tinha sido eliminado em pós-temporada.  Em 2015, infelizmente, uma lesão o tirou do que poderia ser a melhor temporada de sua carreira. Mas como sempre, você não desistiu, levantou e se arriscou voltando antes do tempo para poder dar ao time uma chance de vencer. Em 2016 você se recuperou da lesão e se preparou para levar o time, que segundo suas palavras, “o melhor time que já teve”, à conquista. Novamente, uma lesão o tira a chance de mostrar ao mundo do que você é capaz. Mesmo com sua ausência, e graças a um ótimo draft, o time seguiu em frente e alcançou o recorde de 8-1 sob o comando de Zeke Elliott e Dak Prescott.

Imagino o quão difícil deve ser estar na sua posição nesse momento. Ver o time ir tão bem e não poder contribuir dentro de campo.

Ontem você nos ensinou e nos mostrou mais uma vez a sua grandeza. Sua emoção, sua frustração, seus sentimentos ficaram bem claros na sua declaração. E vê-lo dessa forma me partiu e me doeu o coração. Tudo o que você disse é verdade, nada vem fácil, temos que fazer por merecer. É verdade também dizer que o que você fez durante dez anos é mais que suficiente de o fazer merecedor de estar à frente desse time. Mesmo com tudo isso, você teve a humildade de reconhecer que há algo especial acontecendo com o time nesse momento e de que o Dak Prescott conquistou o direito de comandar o time. Ficou claro que a sua vontade de vencer só aumentou com essa situação. A sua postura em se colocar em frente à imprensa, apoiar o Prescott e colocar o time à frente de tudo isso, é uma atitude para poucos. Isso só me fez te admirar muito mais.  Você mostrou quão grande você é, o quão bom você é, o quão humano você é. As pessoas às vezes esquecem que o jogador é um humano e que tem sentimentos como nós temos.

Em um mundo intolerante, cheio de arrogância, ganancia e falta de respeito e compaixão com o próximo, a sua atitude é de se admirar por todos.

Até ontem eu tinha um ídolo absoluto no esporte, um cara chamado Ayrton Senna. Hoje não mais. Depois da sua atitude, Romo, me referi a você como “meu maior ídolo de todos os esportes” no início dessa carta, mas eu acho que é pouco. Entre um nó na garganta e umas lágrimas ao escrever, vejo que você é muito mais que um ídolo esportivo para mim, é um ídolo e um exemplo na vida. Que sua dedicação, sua vontade de vencer e sua atitude humana, sirva de inspiração e ensinamento para mais pessoas.

Muita da minha paixão ao football é graças a você e as suas jogadas espetaculares. Não tenho palavras para te agradecer por tudo o que me proporcionou dentro de campo e agora fora de campo. Tenho certeza de que esse não é o fim da sua era no Cowboys, e sei que ainda nos dará muito mais alegrias dentro de campo.

Obrigado por tudo e tenho certeza que nos veremos em breve.

Te amo, Romo.

Luiz G. Ferreira.

Luiz Gustavo Ferreira

Acompanha NFL desde 2007 e apaixonado pelo Dallas Cowboys desde então. Ex-jogador de Futebol Americano no Brasil, escritor e participante do Podcast.

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