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OPINIÃO | Tony Romo não vai a lugar nenhum

Este post é uma tradução do texto de Jason King, do Bleacher Report. Você pode ler a versão original clicando aqui.

Quando as notícias começaram a sair — quando a América descobriu que Tony Romo estava machucado de novo — o quarterback do Dallas Cowboys estava em sua sala de estar na sua casa de 9 milhões de dólares, rodeados por amigos e membros da família que não sabiam direito como agir.

Ou o que falar.

Foi pouco antes da tarde do último sábado de agosto, e uma ressonância magnética na sexta-feira revelou que Romo sofreu uma fratura nas costas no momento que sofreu um hit de Cliff Avril, no jogo de pré-temporada contra o Seahawks.

A lesão, disse os médicos, forçaria Romo a perder os primeiros seis a 10 semanas da temporada, um prognóstico que fez o jogador quatro vezes Pro Bowler balançar no momento que o amigo de longa data Nick Sekeres e outros vieram consolá-lo.

O Cowboys divulgou a lesão de Romo em uma coletiva de imprensa com o técnico Jason Garrett pouco antes do almoço. Quase imediatamente, os telefones da casa de Romo começaram a vibrar. Romo estava praticamente em silêncio com os replays dele em dor passavam pela televisão. Então algo deu nele.

“Eu preciso ligar para o Dak”, disse Romo.

Tony Romo cai no gramado depois de se machucar no primeiro quarto durante o jogo de pré-temporada contra o Seattle Seahawks no CenturyLink Field no dia 25 de Agosto, 2016, em Seattle. (Foto: Getty Images)
Tony Romo cai no gramado depois de se machucar no primeiro quarto durante o jogo de pré-temporada contra o Seattle Seahawks no CenturyLink Field no dia 25 de Agosto, 2016, em Seattle. (Foto: Getty Images)

Se desculpando, Romo passou os 15 minutos seguintes no telefone motivando e oferecendo ajuda para Dak Prescott, o calouro de quarta rodada que seria confiado ao cargo de titular diante da nova lesão de Romo.

Enquanto o gesto diz muito sobre a liderança de Romo, a ligação foi, sem dúvidas, difícil de se fazer.

Clavículas quebradas, costelas quebras e um mindinho quebrado. Uma hérnia de disco, um pneumotórax e seguidos problemas nas costas. Romo lidou com incontáveis lesões ao longo de seus 14 anos na NFL. Mas essa talvez seja a mais desanimadora de todas.

Ela veio, dizem os amigos, quando Romo sentia que finalmente tinha tudo a sua frente.

Ela veio quando Romo — com apenas duas vitórias de playoffs junto com seus números individuais digno de Hall da Fama — sentia que ele estava a beira de algo especial.

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Seis dias antes de sua lesão em Seattle, um radiante Tony Romo saiu do vestiário do Cowboys e foi direto para o banco de carona em uma SUV de um amigo em algum lugar do AT&T Stadium. Mais cedo naquela noite, ele jogou duas campanhas quase impecáveis na primeira metade da sua estreia de pré-temporada contra Miami. Foi um passo significativo para Romo, que perdeu 12 jogos da última temporada com uma clavícula quebrada. Sua voz estava cheia de energia, Romo não escondia a alegria que ele sentiu ao voltar a campo.

“Meu corpo finalmente alcançou minha mente”, ele disse para o amigo próximo e colega de quarto na faculdade, Tommy Brewer. “Eu não posso esperar pela temporada. Eu não posso esperar para as pessoas verem o que eu posso fazer.”

Para Romo, uma reviravolta triunfante em 2016 seria outro capítulo para uma das histórias mais fascinantes da história do Dallas Cowboys.

Muito antes de se tornar um dos rostos mais conhecidos de Dallas — se não de toda a liga — Romo era um free agent não-draftado vindo de Eastern Illinois e que passou suas primeiras três temporadas na NFL como um reserva do Cowboys.

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Tony Romo lança a bola contra o Miami Dolphins durante um jogo de pré-temporada no AT&T Stadium no dia 19 de Agosto, 2016 em Arlington, Texas. (Foto: Getty Images)

 

Ele viveu com Sekeres e Brewer em um apartamento no subúrbio de Dallas, onde os jantares costumavam ser uma ida para a praça de alimentação do Shopping Galleria.

A vida rapidamente mudou para Romo em 2006, quando ele substituiu o titular Drew Bledsoe e liderou o Cowboys para os playoffs. De repente, um cara que passava desconhecido enquanto comprava resentes na loja oficial do Cowboys precisava pedir mesas privadas em restaurantes. “Romo-Mania” e “Rom-Momentum” viraram slogans populares ao redor da cidade, e os fãs brincavam em colocar seu nome no Ring of Honor do Cowboys antes do jogo.

“Foi de repente”, disse o pai do Romo, Ramiro. “Independente de ele estar no campo ou não, tudo que ele fazia ficava 100% magnífico”.

A atenção era quase sempre positiva, com histórias aparecendo de Romo levando um sem-teto para assistir um filme ou ajudando a empurrar carros durante a nevasca que caiu em Dallas dias antes de sediar o Super Bowl XLV.

Em outros tempos, no entanto, gerou a ira dos fãs, seja por seu fracasso de vencer jogos de playoffs ou por problemas envolvendo sua vida pessoal.

Isso incluiu um relacionamento de dois anos com a cantora Jessica Simpson que começou em 2007, quando um paparazzi uma vez perseguiu o casal pelas estradas de Dallas quando eles dirigiam para uma igreja. E Tony Romo foi crucificado por viajar para Cabo San Lucas com Simpson e mais alguns companheiros de time durante uma bye week antes de um jogo de playoffs em 2008 que ele acabaria perdendo.

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O simples ato de usar seu boné virado para trás na sideline foi irritante o suficiente para alguns ligarem para estaçoes de rádio de Dallas e questionarem se Romo — que liderou o maior número de viradas no último quarto da história do Cowboys — era o cara certo para a função.

“Por muito tempo, Tony Romo era uma figura incrivelmente polarizada nessa cidade”, disse Norm Hitzges, uma personalidade da rádio de Dallas em 1310 The Ticket. “Eu não consigo pensar em outra posição na NFL onde os holofotes brilham tanto quanto brilham para o quarterback do Dallas Cowboys.”

“As pessoas realmente amavam, ou eram totalmente contra ele. Não havia meio termo.”

Os mais próximos de Romo se impressionavam com sua inteligência enquanto agia diante do intenso brilho que a sua posição recebe.

“Eu acho que o que mais incomodava ele era quando as pessoas questionavam seu comprometimento com o futebol americano”, disse Brewer, seu amigo e ex-colega de quarto. “Ele nunca me disse que isso machucava seus sentimentos, mas eu posso ver como isso o afeta. Isso é algo que ninguém deveria questionar.”

A dedicação de Romo era evidente a cada offseason, quando ele passava o tempo com lendas como Mike Krzyzewski e Larry Brown para aprender coisas sobre motivação e liderança. É óbvio como todas as quintas durante o outono, quando Romo levava vários titulares do ataque para jantar em diversas churrascarias de Dallas para melhorar o ambiente da equipe.

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Tony Romo é levado para a sideline pelos médicos do time depois de sofrer um sack no AT&T Stadium no dia 26 de Novembro, 2015, em Arlington, Texas. (Foto: Getty Images)

 

E nos últimos anos, é visível em viagens de avião tanto para ir e voltar de jogos fora de casa. Com medo de sua dor crônica nas costas “piorar” enquanto ele está sentado, Romo — que uma vez jogou com uma costela quebrada e chance de perfurar o pulmão — costuma passar todo o voo em pé.

Por mais incofortável que seja, Romo jogou com dor nas costas e aproveitou uma de suas melhores temporadas em 2014, quando ele liderou Dallas para um recorde de 12-4 e o título da NFC East. Mas no momento que o time parecia firme para chegar ao Super Bowl, Romo e o Cowboys perderam em Green Bay na rodada divisional.

Antes de entrar no ônibus depois daquela derrota, Romo encontrou amigos e membros da família, alguns chorando.

“Não se preocupe”, disse. “Nós vamos ter a nossa oportunidade. Nossa hora vai chegar”.

Romo esperava que a oportunidade fosse ser esse ano. Depois de perder a maior parte da temporada passada por lesão — o Cowboys ficou 1-11 sem ele — ele entrou no training camp se sentindo mais saudável do que nunca. Sua dor nas costas havia passado, disse ele, e ele sentia que seu tempo fora em 2015 o permitiu melhorar seu mental.

“Ele acredita que o time é bom o suficiente para vencer o Super Bowl”, disse Brewer no dia 20 de agosto. “O competidor nele nunca estará satisfeito a não ser que ele vença um (Super Bowl). Justo ou não, é como os quarterbacks são julgados.”

“Ele está satisfeito com o trabalho que ele vinha fazendo. Mas não estava satisfeito com os resultados”.

Cinco dias depois, Brewer, Sekeres e outros viram de casa os médicos atendendo Romo em Seattle depois do hit de Avril. A preocupação parou um pouco depois que Romo voltou para a sideline e pareceu estar pedindo para voltar ao jogo.

Mais tarde naquele dia, antes de voar de volta para Dallas, Romo ligou para seu pai.

“Não se preocupe, pai”, disse Romo. “Estou bem”.

Ele não participou de nenhum snap desde então.

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Bleacher Report
Dak Prescott (esquerda) faz um passe enquanto conversa com o quarterback Tony Romo durante o jogo contra o Philadelphia Eagles no dia 20 de Outubro, 2016, em Arlington, Texas. (Foto: AP Images)

No último mês, em uma tarde durante a bye week de Dallas, Romo deu uma festa em sua casa para todos os membros do time que ficaram na cidade.

Alguns arriscaram umas cestas na quadra coberta de basquete de Romo enquanto outros jogavam pingue pongue, cartas ou umas tacadas em seu simulador de golfe. Um buffet do Nick & Sam’s, o restaurante favorito de Romo, foi servido, incluindo filés de carne, camarão, lagosta, frango parmesão e vários tipos de saladas e acompanhamentos.

Alguns jogadores se impressionaram tanto que tiveram que fazer vídeos para o Snapchat durante a tarde.

“Isso mostra que tipo de cara ele é”, disse o linebacker Anthony Hitchens sobre Romo. “Ele pode estar fora agora, mas ele é uma parte tão grande desse time como ele sempre foi”.

Pelo menos fora de campo.

Se o Romo terá outra chance de guiar o Cowboys, ainda estamos aguardando para ver.

No que parece ser facilmente a maior surpresa da NFL até agora, Prescott jogou com a postura de um veterano ao liderar o Cowboys para um recorde de 7-1 na ausência de Romo. Inicialmente, parecia uma conclusão definitiva que Romo voltaria como titular um vez que ele voltasse a estar 100%.

Agora isso parece ser questionável, para não dizer improvável.

Enquanto o resto do país se fixou na briga entre Trump e Hillary, o maior debate em Dallas esses dias ficou entre Romo e Dak.

O dono do Cowboys, Jerry Jones, chegou a admitir que Romo poderia ser visto como “frágil” e já disse que o retorno do veterando pode ser “perto do fim do ano”. Ele ainda deu a entender que há a possibilidade de manter Prescott mesmo se Romo voltar.

“Nós agora temos muita química rolando”, disse Jones para a rádio 105,3 The Fan sobre o time. “Isso precisa ser levado em consideração quando você tomar a decisão”.

Lendas do Cowboys como Roger Staubach e Troy Aikman disseram que Dallas deveria manter Prescott como titular, e até Romo reconhece que não há urgência para voltar até que ele esteja completamente recuperado.

Nos últimos anos, especialmente na última temporada, ele sentiu a pressão de voltar a jogar simplesmente porque o ataque do Cowboys — sem um quarterback reserva de qualidade — não funcionava sem ele.

Agora, de acordo com seus amigos, Romo tem o luxo de ter o seu tempo para ter certeza que ele está 100% antes de voltar, porque ele sabe que o Cowboys está em boas mãos com Prescott.

“Ele está frustrado”, disse Sekeres. “Porque ele sente como se esses são os melhores anos de sua carreira que ele está perdendo. Ele sabe que vai ter outra chance, mas reconhece que ela pode passar rápido.”

“Ele me disse, ‘Estou feliz que nós conseguimos nosso cara quando eu terminar (minha carreira)’. Tony quer que o time esteja em boas mãos quando ele parar de jogar, e ele pode ver que Dak pode ser esse cara. Eles acharam seu sucessor, e Tony está feliz por isso.”

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Dak Prescott comemora depois de um first down durante o jogo contra o Philadelpia Eagles no AT&T Stadium em 30 de Outubro, 2016, em Arlington, Texas. (Foto: Getty Images)

Embora os fãs do Cowboys pareçam estar apoiando Prescott titular, a conversa tem sido mais pró-Dak do que anti-Romo. Se é alguma coisa, a falta de veneno é um sinal de apreciação e respeito por um jogador que está enraizado na cidade.

Agora com 36 anos, Romo é figurinha carimbada em jogos de basquete do Dallas Mavericks e do SMU. Esteja ele comendo no Nick & Sam’s, comprando coisas ou falando para um grupo jovem da igreja, Romo quase nunca nega pedidos para foto e autógrafos. Foi apenas no último verão que ele se mudou para sua atual mansão — um dos luxos do contrato de 108 milhões de dólares. Na maioria dos dias, ele está feliz de rodar a cidade usando jeans e um boné de Dallas.

Uma vez nomeado pela Forbes como “Um dos Solteiros Mais Elegíveis da América”, Romo é um homem de família agora. Ele é casado com a ex-apresentadora Candice Crawford em uma cerimônia extravagante em 2011. Os olhos de Romo se encheram d’água e gaguejou enquanto ele lia os votos. “Uma das únicas vezes que eu vi ele ficar tão emocionado”, disse Sekeres. Além de ganhar o Super Bowl, o maior objetivo de Romo no futebol americano é jogar o suficiente para que seus filhos, Hawkins (4) e Rivers (2), consigam ver o que seu pai faz da vida.

“Ele cortaria uma viagem de amigos em um ou dois dias para voltar para casa mais cedo só porque ele sente a falta deles e quer estar lá para contar histórias para dormir”, disse Brewer. “Sua família o mudou. Eu não diria que o futebol americano é menos importante, mas quem ele é como pessoa é mais importante.”

A nova imagem de Romo caiu bem em Dallas.

“Essa cidade colocou seus braços ao redor de Tony e o abraçou”, disse David Shivers, pastor na Igreja Batista de Prestonwood e oficiante do casamento de Romo. “Vê-lo passar por esses altos e baixos fez com que as pessoas apreciassem ainda mais ele. Ele cresceu debaixo dessa cidade.”

“Ele é um de nós agora”.

De fato, mesmo sendo nativo de Wisconsin, os amigos e parentes de Romo dizem que ele considera Dallas sua casa e vai continuar morando lá depois da sua aposentadoria. A ascensão de Prescott estourou uma discussão se o Cowboys consideraria trocar Romo, uma situação que seria constrangedora.

“É aqui que ele quer estar”, disse Andy Alberth, primo de Romo e um de seus amigos próximos. “Eu não tenho certeza, mas eu assumiria que, se ele não puder jogar pelo Cowboys, ele provavelmente não voltaria a jogar”.

Independente de estar como titular ou no banco com oreserva, Romo, que recusou todas as entrevistas durante sua recuperação, almeja voltar a campo essa temporada como um jogador do Dallas Cowboys. O momento pode ser especial. Enquanto Prescott jogou bem o suficiente na temporada regular, a comissão técnica pode se sentir mais confortável com o veterano nos playoffs. Não importa se Romo está apenas 2-4 em jogos de pós-temporada.

“Por mais que as pessoas o critiquem por problemas ao fim da temporada, ele foi a pessoa que levou o time aos playoffs em primeiro lugar'”, disse Todd Archer, da ESPN.com, que cobriu o Cowboys por toda a carreira de Romo. “E mais, a maioria dessas derrotas não são culpa dele. Eu definitivamente acho que os técnicos olhariam para essa possibilidade”.

Sekeres disse que um fato pouco conhecido é que a decisão do Romo usar a camisa de número 9 foi influenciada por Roy Hobbs, um personagem fictício estrelado por Robert Redford no filme de beisebol de 1984 chamado The Natural.

No clímax, um Hobbs de 35 anos, que vinha sofrendo, consegue um home run na none entrada para dar a vitória para o New York Knights.

“Nossa esperança”, disse Sekeres, “é que ele tenha seu próprio momento de Natural, quando ele voltar e dar seu máximo pela última vez por essa cidade e por esse time”.

Tudo que ele precisa é de ua chance.

“O último capítulo ainda não foi escrito”, disse o tight end Jason Witten. “Ele não vai se deixar falhar”.

Fonte
Bleacher Report

Gabriel Plat

Curte NFL por escolha e o Dallas Cowboys por amor. Aprecia a boa música e compartilha outro sofrimento: o Botafogo. Um dos participantes do podcast.

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