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OPINIÃO | Como o começo de carreira de Dak Prescott pode ser comparado?

Dak Prescott talvez seja a melhor e mais legal história desta temporada de 2016. Como todos já sabem, o jogador foi escolhido na quarta rodada do último draft. Os Cowboys não o tinham como uma das primeiras opções para compor seu elenco na posição de quarterback; ele foi escolhido para ser trabalhado e, quem sabe, futuramente, se tornar o dono da posição na equipe. Mas o destino interferiu na história do jogador, que começou a temporada como terceira opção do time. Na pré-temporada, o backup de Romo, Kellen Moore, se machuca. O jogador sofreu uma grave fratura no tornozelo e vai ficar de fora de toda a temporada de 2016. Dak se torna o reserva imediato de Romo, que machuca as costas no terceiro jogo contra os Seahawks e ficando de fora de quase metade da temporada de 2016.

Nesse momento, grande parte dos torcedores dos Cowboys sentiram que a temporada de 2015 poderia se repetir novamente neste ano, apesar das boas atuações de Dak na pré-temporada. A temporada enfim começou e, acredite ou não, Dak Prescott teve uma boa atuação no seu primeiro jogo, sendo que, até o momento, foi a pior partida do jogador em 2016. Até a atual semana, Dak Prescott tem sido a sensação da temporada, e consequentemente, uma das histórias mais legais que aconteceram até aqui. Mas acredite, sua história é um pouco parecida com outros dois quarterbacks que atuam há bastante tempo na liga.

A partir de agora, comparo a história do jogador com outros dois quarterbacks. A motivação para fazer este texto não é de comparar qual jogador é melhor, e sim apresentar alguns fatos que podem ter influenciado o desempenho de cada jogador. Afinal de contas, comparar desempenho com variáveis e situações tão distintas uma da outra é bastante injusto com os jogadores que estão sendo comparados. Ao final do texto o motivo ficará mais claro, eu garanto.

Um dos principais fatores do hype de Prescott ser tão grande nesta temporada está, talvez, diretamente ligado ao recorde que o jogador quebrou de um dos maiores quarterbacks da história do esporte. Dak, é atualmente, o calouro com mais tentativas de passe sem ser interceptado. Ele lançou 176 passes antes de sofrer sua primeira interceptação na carreira. Antes, o dono do recorde era Tom Brady, que havia tentado 162 passes. E coincidências à parte, a história dos jogadores tem muito mais em comum do que você imagina.

Em 2001, Tom Brady teve sua oportunidade de ser titular por conta da lesão do QB1, Drew Bledsoe
Em 2001, Tom Brady teve sua oportunidade de ser titular por conta da lesão do QB1, Drew Bledsoe

Só pra relembrar, Tom Brady foi escolhido no final do draft de 2000, mas precisamente na sexta rodada, foi o jogador de número 199 a ser escolhido. Também bem abaixo de seu potencial, Dak Prescott também foi escolhido em uma quarta rodada do draft de 2016. Já são duas histórias parecidas e compartilhadas por estes dois jogadores. Mas as coincidências não param por aí.

No ano de 2001, Brady era o reserva imediato de Drew Bledsoe, e no segundo jogo da temporada contra os Jets, Bledsoe sofre uma pancada bem forte que causa uma hemorragia interna no jogador. Brady então, entrou no time para nunca mais sair. Nos primeiros jogos de Brady como titular dos Patriots, o jogador encontrou bastante dificuldade para completar seus passes. Um dos principais motivos para que isto tenha acontecido era uma péssima linha ofensiva que a equipe possuía naquela época. Naquele ano, Brady foi o oitavo quarterback com mais sacks sofridos na liga. O grupo de recebedores que Brady possuía não era dos melhores, e mesmo assim, o jogador entrou em sua primeira temporada para se tornar um grande líder naquela equipe. Em sua primeira temporada como titular na NFL, o jogador acabou se consagrando campeão do Super Bowl e se tornando o quarterback mais novo a conquistar o título (Ben Roethlisberger quebraria este recorde em 2006).

Junto com seu head coach, Bill Belichick, Brady e o técnico são pessoas extremamente estudiosas do jogo. Juntos, os dois conseguiram encaixar um esquema que poderiam vencer jogos durante aquela temporada. Bill Belichick falava sempre uma coisa de Brady em suas coletivas: “Brady é extremamente competitivo, é um jogador que se doa muito dentro de campo e é um grande estudioso do jogo.” Imaginem o hype que Brady deve ter recebido nessa época. Na temporada anterior o time teve um recorde de cinco vitórias e 11 derrotas. Quando Bledsoe machucou na segunda semana da temporada de 2001, grande parte dos torcedores dos Pats imaginou que a temporada havia acabado e esperavam que o time pegasse uma boa posição do draft no ano seguinte. Brady entrou no time e foi o principal fator do lado ofensivo da equipe a conquistar as vitórias naquela temporada. Além dele, New England tinha uma ótima defesa que era muito eficiente em não ceder jardas para o adversário em momentos decisivos e foi a sexta melhor interceptando passes, 22 no total.

Os números que Brady conseguiu fazer nas suas sete primeiras partidas não são excepcionais, mas, o mais importante e que deve ser destacado, ele conseguiu vencer jogos e conquistar a confiança necessária para melhorar sua atuação no decorrer da temporada. Assim como Dak, Brady foi interceptado apenas no seu sexto jogo, e esse foi o primeiro motivo pelo qual eu tive a motivação de escrever o texto. Tive muita curiosidade de saber do desempenho que Brady teve quando ele conseguiu estabelecer este importante recorde que se manteve durante 15 anos na NFL. E como já foi dito anteriormente, não é justo comparar desempenhos dos jogadores com inúmeros fatores e situações diferentes.

Por exemplo, Dak tem a sua disposição, discutivelmente, a melhor linha ofensiva da liga. E apesar da contusão de Dez Bryant, seu time de recebedores é bastante eficiente com um dos melhores tight ends da liga e um dos melhores slots receivers do campeonato. Outro fator bastante importante, e talvez seja o maior, Dak tem a seu favor o melhor ataque terrestre da temporada, o que tira um peso enorme das costas do jogador de não ser o único responsável por fazer o ataque conquistar suas jardas. Além das peças em si, Dak têm 15 anos de evolução do jogo a seu favor, o jogo que era jogado na época em que Brady estabeleceu o recorde era outro. Mas enfim, vamos aos números: Até a semana sete, e sexta atuação de Brady, o jogador acertou 104 passes em 169 tentativas para 1069 jardas, lançou para touchdowns e interceptações. Um recorde de três vitórias e três derrotas com um rating de 83,25.

Os números de Dakota Prescott são bem mais expressivos. O que não quer dizer que o jogador deve ser titular da equipe só por ter tido números melhores que o de Brady em começo de carreira. Dak têm 125 passes completados em 182 tentativas para 1486 jardas, lançou touchdowns interceptação. Um recorde de cinco vitórias e uma derrota com um rating de 103,9. A única semelhança que Brady e Prescott possam a vir compartilhar do começo de carreira de cada jogador é que ambos fizeram exatamente aquilo que os seus respectivos técnicos mandaram. Não forçaram passes mais longos, conquistaram a confiança necessária no decorrer da temporada e descobriram como o futebol americano é jogado, cada um em seu tempo.

Reparem como Prescott já melhorou sua atuação no decorrer da temporada, como ele jogou os dois primeiros jogos e como ele já mostrou evolução nos dois últimos jogos dos Cowboys. A evolução é tão nítida, que é só reparar no passe que Dak lançou para o touchdown de Butler no jogo contra os Packers. A janela para fazer a conexão era minúscula e mesmo assim Prescott foi cirúrgico no passe e colocou a bola exatamente onde era possível para a realização do touchdown. Com Brady também foi assim, e até pior, ele não possuía as peças que Dak hoje têm, e mesmo assim, ele conseguiu evoluir no decorrer dos jogos e já conseguiu mostrar evolução em seu quarto jogo na NFL contra os Chargers, onde o jogador lançou para mais de 350 jardas e dois touchdowns. Não acompanhei de perto as notícias daquela época, mas é bastante provável que o hype que Brady alcançou naquela temporada pode ser bastante parecido com o de Prescott nesta temporada, ou até maior.

No começo do texto eu disse que iria comparar três quarterbacks. Pois bem, em 2001 assim que Brady assumiu a posição de titular dos Pats, o antigo dono da posição, Drew Bledsoe, amargou a posição de reserva no restante da temporada até vencer a final de conferência contra os Steelers, depois de uma contusão de Brady, o jogador entrou na final da AFC e levou os Pats a vitória para jogarem o Super Bowl naquela temporada. Depois do ano de 2001, Bledsoe passou três anos em Buffalo até ser contrato pelo Dallas Cowboys em 2005. Naquela época, Bledsoe foi o oitavo quarterback em Dallas desde o ano de 2000. Vocês não leram errado, eu disse OITAVO quarterback. Isso demonstra o quão inconsistente e desgastada estava a posição na franquia.

Foi também por conta de uma lesão de Drew Bledsoe que Tony Romo se tornou o titular do time
Foi também por conta de uma lesão de Drew Bledsoe que Tony Romo se tornou o titular do time

Na temporada de 2006, especificamente na semana seis contra os Texans, Tony Romo entra no lugar de Bledsoe no final da partida e consegue completar dois passes; Um passe longo de 33 jardas para Sam Hurd, e um passe de duas jardas para o touchdown de Terell Owens. Na semana seguinte, contra os Giants, Bledsoe deixa o campo por estar tendo um péssimo jogo e Tony Romo entra no time para começar a escrever seu nome na história da franquia. No jogo contra os Giants, Romo entrou no segundo quarto, e de imediato, mostrou ser um jogador mais móvel no pocket do que Bledsoe. O que virou comum em algumas jogadas no começo de sua carreira, e que certamente até marcou, Romo sempre sofria interceptações quando era pressionado. Ele sem tempo, significava que o jogador tinha que tomar decisões rápidas, e nessas horas, Ramiro lançava interceptações. Neste jogo, Ramiro não foi muito bem nas estatísticas, mas todos sentiam que o jogador iria trazer melhora para aquele ataque dos Cowboys na temporada. Na partida, Romo acertou 14 passes de 25 tentados para 227 jardas, dois touchdowns e três interceptações.

Tony Romo em suas seis primeiras partidas teve números excepcionais. E aqui está outro motivo pelo qual tive a motivação de fazer este texto. Tive também a curiosidade de saber o quão Tony Romo foi bem em suas primeiras partidas na liga. E não fiquei curioso só para mostrar que Romo deve ser o quarterback titular no lugar de Prescott. Minha intenção é de entender o hype que cada quarterback comparado aqui, neste texto, sofreu no decorrer das suas carreiras, necessariamente, nas seis primeiras partidas da temporada.

No começo de carreira, Romo possuía um ataque sólido, com uma linha ofensiva extremamente forte e pesada, um bom jogo corrido e alvos no jogo aéreo que eram ótimos em passes de profundidade. Um dos graves defeitos do ataque era a grande quantidade de faltas cometidas pela linha ofensiva. Este pode ser até um dos fatores que Tony Romo sofria muitas interceptações. Com uma linha ofensiva extremamente faltosa, as descidas da equipe se tornavam mais longas, e consequentemente, as defesas se preparavam melhor para o passe. Romo, no começo de carreira, ficou famoso por lançar algumas interceptações quando era pressioando. O jogador era normalmente comparado a Brett Favre, devido a facilidade de lançar passes mais longos e por também lançar interceptações, por isso a comparação.

No final dos seus primeiros jogos, Ramiro conseguiu estes números: 125 passes completados de 180 tentados para 1656 jardas, lançou para 13 touchdowns interceptações. Um recorde de quatro vitórias e 2 derrotas e um rating de 110,41. No jogo contra o Buccaneers, em um Dia de Ação de Graças, Romo teve uma das melhores atuações de sua carreira. Ele lançou 29 passes, completou 22 para 306 jardas e 05 touchdowns. Não sei se vocês conseguem imaginar o hype que o jogador conseguiu atingir neste momento. Ele era um quarterback reserva em uma das maiores franquias na história da NFL, seu time já havia tentado oito jogadores diferentes na posição em menos de seis anos. Chega um jogador que não foi escolhido no draft e começa a dar estas esperanças para os torcedores da equipe e mídia que acompanha o time. Perceberam?

Não sei se ainda notaram algumas coincidências no decorrer do texto, mas percebam que Tom Brady era  quarterback reserva de Drew Bledsoe em 2001 nos Patriots. Em 2006, Romo era o quarterback reserva de Bledsoe nos Cowboys. E depois de dez anos, Dak era quarterback reserva de Romo em Dallas. E Dak conseguiu quebrar um recorde estabelecido por Brady há tanto tempo! É muita coincidência! E elas não acabam por aí. Como dito anteriormente, Brady foi escolhido em uma sexta rodada do draft, Romo não foi draftado (Undrafted) e Dak foi uma escolha na quarta rodada do último draft. E com todos eles, a vaga de quarterback titular caíram em seus respectivos colos, com contusões dos donos de posição.

Agora imaginem o hype que cada jogador causou em suas respectivas épocas. Hoje analisando friamente, imaginamos que o maior tenha sido o de Brady, afinal de contas, no final daquela temporada ele acabou se consagrando campeão do Super Bowl e vem se tornando um dos maiores quarterbacks da história. Mas a intenção de todo este texto, não é mostrar qual hype foi maior, ou qual quarterback é melhor nas suas sete primeiras semanas. A intenção é de entender que todas as coisas que acontecem no futebol americano, são circunstanciais, e devemos analisar todos os fatores e variáveis de determinado contexto. Assim como na vida!

Marcus Vinicius Tavares

Torce para os Cowboys desde 1995 e acompanha fielmente o time desde 2005. Curte o bom e velho rock and roll e tem como a comida favorita: Hamburger! Trocar idéia e beber uma gelada são seus passatempos prediletos.

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