Opinião

Jaylon Smith deixará saudades?

Começo com uma pergunta: quem acompanha o Dallas Cowboys ficou realmente surpreso com a dispensa de Jaylon Smith?

Acho que o espanto reside mais com o momento do que com o corte (detalhes aqui).

Jaylon Smith é uma história de superação ao estilo Cinderella Man (James J. Braddock) numa versão futebol americano.

Para quem não lembra (ou não sabe), não custa recordar que Smith sofreu uma grave lesão (uma das mais terríveis que já vi) no Fiesta Bowl no dia 1º de janeiro de 2016, muito próximo do draft do mesmo ano. Ele era considerado como top 5 da classe e a contusão foi tão, mas tão séria que ninguém sabia se ele teria condições de jogar uma partida de futebol na vida.

Obviamente ele caiu no draft.

Dallas o selecionou na segunda rodada, na posição geral 34. Foi uma surpresa, pois os analistas acreditavam que ele seria recrutado ainda mais tarde. Os médicos de Dallas avalizaram a seleção. O vídeo é emocionante, desde a surpresa do comentarista à maravilhosa reação do jogador e sua família.

Jaylon não jogou na primeira temporada e a sua recuperação não correu tão rapidamente como os mais esperançosos acreditavam. Porém, o nervo do joelho lentamente se recuperou e ele conseguiu estar à disposição para 2017, com uma participação limitada.

Mas chegou 2018 e ele foi muito bem. Jogou 95% dos snaps defensivos. Fez jogadas maravilhosas e formou uma dupla com o calouro Leighton Vander-Esch que fez os olhos dos torcedores e analistas brilharem.

Em 2019, um pouco antes do primeiro jogo da temporada, os Cowboys renovaram seu contrato por cinco anos, num acordo de 65 milhões de dólares, sendo 34 milhões garantidos. Uma bagatela que veio do seu melhor momento esportivo da temporada imediatamente anterior.

Porém, na vida sempre tem um todavia. Após a renovação de contrato vieram os jogos e sua performance caiu em relação à 2018. Em números ela é muito boa, mas quem assistiu atentamente as partidas não tem dúvida do declínio.

E em 2019 se acentuou um aspecto irritante para alguns torcedores: a autopromoção. Ele passou a fazer seu movimento característico swipe em todo tackle, mesmo em situação desfavorável à equipe. Parecia videogame. O fato agitou as redes com muitos memes e até contas no Twitter para jocosamente avaliar seus swipes.

Particularmente, eu achei essa fase um absurdo. Time mal, jogador decaindo e a comemoração era absolutamente individualista.

Mesmo assim, após algumas lesões dos inicialmente escolhidos, com um ano de atraso, veio a sua primeira seleção ao Pro Bowl.

Chegou 2020 e o decréscimo esportivo seguiu, embora tenha sido o seu ano de maior participação nos jogos (98% dos snaps defensivos).

No final dessa temporada, os rumores por um corte eram enormes, já que o seu salário era elevadíssimo e a resposta em campo, para dizer o mínimo, era desproporcional ao valor que pingava na sua conta.

Houve uma entrevista nesse período onde ele desafiou o jornalista a olhar o tape dos jogos após ser questionado sobre se temia um corte na offseason. O roteiro da decadência.

Veio 2021. Tendo em vista as palavras de Jerry Jones e da comissão técnica na offseason, sempre em sua defesa, o corte do linebacker não aparecia no horizonte.

Então chegou a noite da última terça-feira e fontes anunciaram sua dispensa pelo Cowboys.

À lá comentaristas norte-americanos: Uau.

Como disse na primeira frase, o que surpreendeu foi o momento, não corte em si.

Depois do movimento, descobriu-se que a franquia não poderia cortá-lo na offseason por questões contratuais (o acordo se torna integral em situações de lesão e ele passou por cirurgia no pulso). Ao menos não haveria nenhum reflexo para o salary cap.

Mais aspectos se desvelaram. Dallas tentou trocá-lo na offseason e agora. Embora não se saiba a pedida oficial, especulou-se que os texanos aceitariam assumir parte do gasto com o jogador no seu cap e até uma 6ª rodada permitiria a trade.

Não houve negócio.

A vida seguiu e Dallas draftou Micah Parsons na primeira rodada e Jabril Cox na quarta. Ambos linebackers. Contratou Keanu Neal. Possui boa profundidade na unidade e precisa resolver a situação de Vander-Esch (a equipe não utilizou a cláusula de quinto ano de contrato de calouro dele e seu acordo se encerra ao final desta temporada).

Começaram os jogos de 2021.

Micah Parsons vingou e está jogando muito. Keanu Neal, apesar de ficar fora por questões de protocolo covid, estava bem. Jayron Kearse faz interessante papel híbrido. Jabril Cox é cobrado para ter maior participação. Como dito, há uma confortável profundidade no elenco.

E Jaylon?

Bom, ele foi titular nos dois primeiros jogos, com atuações no máximo medianas. Foi perdendo snaps, espaço, os demais foram chegando, não desempenhou papel relevante no special teams e, finalmente, Dallas fez o seu movimento.

Outro aspecto preponderante: caso Jaylon se machucasse e até março não estivesse disponível (como em 2021), mais de 9 milhões de dólares de salário para 2022 estariam totalmente garantidos para ele.

Portanto, o corte foi uma decisão de natureza esportiva, já que ele é reserva, não produz o que se espera há muito tempo e não faz diferença ao special teams. Para isso, há outros jogadores que podem fazer, no mínimo, o mesmo.

Porém, ao mesmo tempo, há uma questão econômica para 2022. Embora os 7,6 milhões de dólares de 2021 contem integralmente (sem choro, nem vela), Dallas economizará 5 milhões de dólares no cap de 2022, momento em que precisará analisar os contratos de titulares absolutos como Dalton Schultz, Michael Gallup e Randy Gregory.

O fato é que jamais esquecerei Jaylon Smith. Torci demais para ele. Cogitei muito comprar sua Jersey em 2017 e 2018. É um jogador simpático e uma história de recuperação hollywoodiana.

Mas seu futebol e papel na equipe estão num lugar e o salário em outro. São incompatíveis.

De tudo, fico realmente positivamente surpreso com a postura de Dallas. Não lembro de ver a franquia tomando atitudes como essa. Normalmente, a comissão permanecia com o seu jogador mesmo sem rendimento. A gente brincava que era um time que não tomava atitudes antipáticas. O extremo oposto da administração vencedora do New England Patriots, por exemplo, com raras exceções (Dez Bryant e Dan Bailey me vêm a mente).

E para o atento leitor, que ainda permanece comigo nesse longo texto, faço uma reflexão: quem é o grande vencedor dessa rodada?

Jaylon poderá jogar em qualquer equipe. Por já ter o salário garantido para o ano, deverá assinar pelo mínimo para se provar. O desinteresse para trocas diz mais com o seu contrato de números elevados com Dallas.

A franquia texana salvará gastos em 2022 e poderá seguir o crescimento de seus novatos na atual temporada.

Porém, para mim, Dan Quinn sai muito valorizado. A família Jones está vendo o que ele está fazendo e como os jovens jogadores estão rendendo nas suas mãos. Jaylon foi titular da pior defesa da história em 98% dos snaps e perdeu espaço na atual, que está em evidente crescimento. Em 2021 os jovens estão dando o seu recado nas mãos do coordenador defensivo. Dallas está entregando tudo para ele. Espero que dê certo.

Dan Quinn é o presente e o futuro.

Vida longa ao rei.

 


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Diego Barros

Torcedor do Dallas escondido no velho oeste do Rio Grande do Sul. Veterano na torcida desde a década de 90, louco para recuperar o Lombardi.

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