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Tire os olhos da bola: A interceptação no segundo quarto

No último domingo, o Dallas Cowboys foi a Seattle enfrentar o forte time do Seahawks e, apesar de não ser favorito, disputou a partida até o final, perdendo por 38×31. Assistindo novamente o jogo, a sensação é de que o resultado poderia ter sido outro, caso uma ou outra jogada tivesse sido diferente. Então, escolhi uma jogada dessas para analisar com detalhe.


Com aproximadamente 50 segundos restantes no primeiro tempo, o Cowboys perdia o jogo por 16×15 e tinha a bola na linha de 25 jardas do campo de defesa. Era uma 2ª para 5 jardas. Dallas tinha acabado de recuperar a bola após forçar um punt do Seahawks. Dak Prescott tenta uma conexão em um passe um pouco mais longo para Amari Cooper e é interceptado.

Na campanha seguinte, Russell Wilson leva o time da casa até a end zone e coloca a diferença em 8 pontos. O que poderiam ser 3 ou até mesmo 7 pontos para os Cowboys, se tornaram 7 para os Seahawks.

A decisão

Aqui, não vamos analisar a decisão dessa jogada em si, vamos voltar a fita e analisar alguns instantes antes.

Com 1:45 restantes no período, a defesa do Cowboys parou um scramble do quarterback adversário em uma 3ª para 12, forçando uma 4ª para 4. Como Wilson foi derrubado dentro de campo, o relógio continuou rodando. O técnico Mike McCarthy optou por não pedir tempo por receio do ataque do Seahawks continuar em campo e converter a 4ª descida e assim, esse timeout pedido por Dallas lhes daria mais tempo para avançar.

Mas Seattle não quis arriscar e chutou um punt após gastar os 40 segundos que tinha direito. O Cowboys então recebeu a bola na linha de 20 jardas de defesa com apenas 1:03 restantes e 3 tempos para pedir. É uma situação consideravelmente pior do que 40 segundos a mais e 2 tempos para pedir: o ataque tem um controle considerável do tempo, trabalhando bem as laterais e podendo fazer um spike quando necessário.

Na minha visão – e isso parece ser o senso comum – McCarthy deveria ter pedido o tempo. Talvez tenha receado por conta das críticas a suas decisões agressivas que deram errado nos outros dois jogos. Ou sua insegurança estava na defesa que vem se mostrando muito fraca. Mas, na pior das hipóteses, pedir um tempo ali daria algo em torno de 25 segundos a mais para Seattle, que já estava no meio do campo e tinha um tempo para pedir – talvez nem precisasse de todo o tempo restante para seu ataque.

Essa decisão me pareceu bem errada e pode ter custado o jogo. Já veremos o porquê.

A jogada

Vamos entrar no detalhe da tática e da execução da jogada e ver porque ela falhou. Assista ao lance aqui.

Aqui podemos ver as rotas executadas pelos recebedores na jogada. Com essa chamada, o ataque poderia explorar os confrontos do lado esquerdo. Aberto, Michael Gallup (#13), tem uma vantagem grande na rota comeback por seu defensor estar afastado e ter dificuldade para recuperar após o corte. Também poderia se olhar para CeeDee Lamb na rota profunda, caso este ganhasse no mano-a-mano com o safety.

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Inicialmente, Prescott olha para Noah Brown (#85), que parece ser sua primeira opção. Esse olhar do quarterback desloca o safety (#33) para o meio do campo, abrindo um pouco mais de espaço para a rota do recebedor isolado na direita. Brown está bem marcado pelo linebacker #54, que recuou para marcar a zona central do campo, e pelo #33, que chega na ajuda, então Dak deve seguir com suas progressões.

Dak agora olha para Amari Cooper (#19) na direita e, com o defensor #33 deslocado um pouco para o meio, há uma janela para lançar a bola. No entanto este defensor sempre esteve fortemente encarregado de dobrar a marcação em Cooper e, assim que Prescott olha para a direita, o #33 reage, se deslocando para lá rapidamente. Isso fecha a janela de passe e o que Dak deveria fazer é continuar suas leituras e buscar seus recebedores no lado esquerdo. Note como Lamb e, principalmente, Gallup têm melhores condições em suas rotas.

Porém, o que acontece é que a linha ofensiva cede espaço muito rapidamente e, em pouco tempo, Dak tem um pocket prestes a colapsar. Assim, ele se sente forçado a lançar rapidamente a bola, por mais que de forma arriscada, para sua leitura atual: Cooper. Essa decisão provavelmente foi agravada pelo pouco tempo no relógio: um sack mataria a campanha.  Lembrando: o Cowboys perdeu 40 segundos por uma decisão do técnico 3 jogadas antes. O passe ainda vem um pouco atrás do recebedor, em parte por conta da presença do #33, e isso permite ao marcador de Cooper roubar a bola.

intCom isso, a bola é interceptada e, na campanha seguinte, Russell Wilson leva o ataque do Seahawks a um touchdown decisivo em pouquíssimo tempo.

O veredito

Para mim, McCarthy deveria ter pedido tempo 3 jogadas antes da interceptação, dando mais tempo e colocando menos pressão para o ataque avançar rápido. Quanto ao passe de Dak, sinto que poderia ter esperado um pouquinho mais o desenvolvimento das rotas do lado esquerdo do campo, principalmente a de Gallup. Em um ataque que quer avançar rápido, é ideal sair de campo e a rota do #13 conquistaria 12 jardas e sairia de campo, muito provavelmente, enquanto a de Cooper tinha marcação dobrada e acabaria dentro de campo.


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Este texto faz parte de uma série semanal que pretende trazer análises técnicas e táticas de lances decisivos das partidas durante a temporada. Clique aqui para ver o texto anterior. Feedbacks, sugestões e críticas são muito bem-vindos!

Guilherme Ludescher

Estudante de engenharia de computação e amante de futebol americano de todos os jeitos: no videogame, na TV e em campo.

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