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Tire os olhos da bola: a conversão de dois pontos

No último domingo, o Dallas Cowboys conquistou sua primeira vitória na temporada, mesmo tendo perdido 3 fumbles no primeiro quarto e sofrido um total de 39 pontos. Para derrotar o Atlanta Falcons, precisou recuperar um onside kick com pouco menos de 2 minutos restantes e operar um milagre.

Mas, talvez, esse onside kick não fosse necessário caso uma jogada ou outra tivesse um resultado melhor. Assim, vamos analisar, no detalhe, uma jogada decisiva, que obrigou o Cowboys a ter a bola mais duas vezes para virar a partida.


Com o relógio apontando 4:57 restantes no último quarto, o Cowboys perdia por 39×30 e tinha acabado de anotar um touchdown em um belo passe de Dak Prescott para Dalton Schultz. Por conta do placar e do tempo de jogo, o técnico Mike McCarthy sabia que precisaria de uma conversão de 2 pontos para empatar o jogo, fosse agora ou mais tarde. Decidiu por agora. Não converteu. Isso deixou o Cowboys atrás por duas posses de bola, algo praticamente impossível de reverter – a chance de vitória dos texanos era de 0,1% segundo casas de aposta.

A decisão

A decisão de tentar os dois pontos foi muito criticada por diversos analistas de NFL. O argumento é de que chutar um extra point deixaria o jogo em apenas uma posse de diferença, muito mais manejável. McCarthy respondeu dizendo que precisaria converter os dois pontos em algum momento e, caso não fosse conseguir, preferia ter essa informação o quanto antes, para melhor gerenciar o jogo a partir daí. E eu concordo com ele.

Essas reclamações são produto do resultado da jogada: caso tivesse sido convertido, não ouviríamos essas críticas. Além disso, suponha que o Cowboys tivesse adiado a tentativa de conversão de 2 pontos: O manejo do tempo em uma nova posse, perdendo por 8 pontos, não teria a mesma urgência do que perdendo por 9 pontos (A campanha seguinte levou pouco mais de um minuto para avançar 74 jardas e conquistar o touchdown). Caso a conversão adiada falhasse, possivelmente não haveria tempo para o onside kick e a virada. Assim, concordo com a decisão “ousada” do técnico.

A jogada

Vamos analisar um pouco a tática e a execução da jogada e porque ela falhou. Veja a jogada aqui.

A seguir, vemos o desenho da jogada, como provavelmente foi pensada pelo coordenador ofensivo Kellen Moore.

Aqui, podemos ver que há dois jogadores chave na defesa, o #27 e o #24. A ideia da jogada era deslocar pelo menos um desses com uma movimentação antes do snap de CeeDee Lamb. Olhando pro lado direito da linha ofensiva, o right tackle Terence Steele faz um bloqueio no outro defensor chave (que não foi deslocado) e o right guard Zack Martin é responsável pelo linebacker. Isso abriria um espaço para Ezekiel Elliott correr à direita dos wide receivers. Mas não é bem assim que acontece.

logo_após_snap

A movimentação de Lamb causa apenas um pequeno deslocamento para a direita dos linebackers, enquanto o safety (#27) se desloca imediatamente para a esquerda da defesa quando a jogada começa. Isso mostra que esse jogador nunca acreditou que a bola pudesse ir para Lamb. A partir daí, o Falcons ganha uma pequena vantagem na disputa por espaço.

Nos próximos dois frames, podemos ver como o ataque de Dallas executa de forma quase perfeita seus bloqueios. Os recebedores Noah Brown (#85) e Michael Gallup (#13) anulam qualquer possibilidade de ação de seus respectivos defensores e Steele (#78) faz um bom bloqueio, levando seu defensor em direção à lateral. Inclusive, Gallup derruba o marcador no chão, contabilizando um belo de um pancake.

bloqueios2

Neste segundo frame, conseguimos inclusive ver que Brown atrapalha dois defensores do Falcons, um deles da linha defensiva, que se livrou do center Joe Looney. Também podemos ver que Martin (#70) erra o ângulo de seu bloqueio, permitindo que o #45 de Atlanta escape.

Finalmente, com os bloqueios todos realizados, vemos que Zeke tem que enfrentar o #27 da defesa em um espaço fechado. Além disso, o #45, que fugiu de Zack Martin, já está fechando na jogada e diminui ainda mais o espaço.

tackle

Por conta de uma boa leitura da jogada e reação rápida, o #27 consegue preencher o espaço aberto pelos bloqueios de forma muito rápida e fazer o tackle, impedindo a conversão de dois pontos que deixaria o Cowboys a 7 pontos do empate.

O veredito

A defesa do Falcons estava preparada para a chamada e nunca hesitou com uma possível corrida do novato Lamb. Não se pode para culpar Martin e Looney pelos bloqueios “perdidos”, pois a linha defensiva reagiu de forma imediata ao snap, se deslocando para a direita do ataque e preenchendo os espaços. Outro ponto a se destacar é que o principal recebedor do time, Amari Cooper, não estava em campo para um dos lances mais importantes da partida.

A meu ver, a decisão de ir para conversão naquele momento foi correta, porém a chamada foi bastante duvidosa. Pode pôr na conta da comissão técnica essa daqui!


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Este texto é o primeiro de uma série semanal que pretende trazer análises técnicas e táticas de lances decisivos das partidas durante a temporada. Feedbacks, sugestões e críticas são muito bem-vindos!

Guilherme Ludescher

Estudante de engenharia de computação e amante de futebol americano de todos os jeitos: no videogame, na TV e em campo.

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