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Como o Dallas Cowboys conquistou a divisão Leste

Conhecer um pouco da história do Cowboys nunca é demais, não é mesmo?

Em 2020 completa 50 anos que o Dallas Cowboys está na divisão Leste da NFC. Essa história inicia em 1970 quando a NFL e a AFL concluíram sua fusão tornando-se apenas uma liga, o que ocasionou seu primeiro realinhamento e a criação das conferências NFC e AFC, possuindo cada uma 3 divisões e 13 times cada.

Com isso, aparece a pergunta: como uma franquia a oeste do estado do Mississippi acabou ficando na divisão com Washington Redskins, Philadelphia Eagles, St. Louis Cardinals e New York Giants? Isso pode ser respondido pela insistência do então presidente e gerente geral do Cowboys, Tex Schramm, grande amigo do então comissário da NFL, Pete Rozelle.

Tex compreendeu as rivalidades que o Cowboys criou nos primeiros 10 anos da franquia, com Giants, Redskins e Eagles. Ele também entendeu a explosão de jogos sendo transmitida pelas redes de TV e o valor que traria em jogar duas vezes por ano, todos os anos contra equipes de grandes mercados consumidores. Ele entendeu o valor do marketing da exposição.

Ele também entendeu a distribuição de bilheteria nos jogos fora de casa. Estádios maiores significavam maiores lucros.

Tex, que começou sua carreira na NFL trabalhando na área de relações públicas para Rozelle no Los Angeles Rams e isso ajudou Tex a ter uma certa influência no comissário. Porque, do ponto de vista geográfico, como um time com sede em Dallas terminaria em uma divisão chamada Leste? Não havia nada do Leste em Dallas.

Quem acompanha sites americanos, depararam com isso no início da semana se leram o texto do ex-vice-presidente executivo de comunicações da NFL, Joe Browne no Football Morning in America do Peter King. Browne passou 50 anos na NFL. Ele esteve lá nas negociações de fusão da NFL-AFL e esteve lá 50 anos atrás para o realinhamento da NFC.

E olhe, para os fãs antigos dos Cowboys, isso pode não ser novidade para você. Mas para mim e talvez para a grande geração que surgiu com a vinda da NFL para os canais brasileiros, essa história é fascinante.

Schramm e o proprietário do Kansas City Chiefs, Lamar Hunt, que transferiu a franquia da AFL depois de três anos em Dallas para Kansas City, começaram as negociações de fusão no carro de Tex chamado “Old Smokey” em um estacionamento de Love Field – um bairro de Dallas – em abril de 1966.

Na esquerda: Lamar Hunt, dono do Chiefs. Na direita: Tex Schramm e o comissário Pete Rozelle. (Getty Images)

Em junho do mesmo ano, a fusão foi concluída por necessidade financeira, já que ambas as ligas estavam travando uma guerra de ofertas para os jogadores. A AFL concordou em pagar uma taxa de entrada de US$ 18 milhões que foi paga em 10 anos e os dois lados se reuniram para o que inicialmente foi chamado de World Championship jogo que seria entre os vencedores da duas ligas. Naquela época, eles concordaram em operar com seus nomes originais até o fim da década de 60.

Mas em 1970, as ligas completaram a fusão, com 13 equipes na NFC e 13 equipes na AFC. E para que fosse facilitado essa divisão, três dos clubes da NFL, Cleveland, Pittsburgh e o então Baltimore Colts, concordaram em se mudar para a AFC e receberam uma gratificação financeira por essa cooperação.

Então, agora a NFC precisava realinhar suas divisões. Rozelle percebeu que tinha um enorme problema em suas mãos quando convocou uma reunião de representantes da equipe no dia anterior ao Super Bowl IV em Nova Orleans, que teve Kansas City x Minnesota. Como Browne lembrou, os proprietários estavam mais interessados em fazer reservas para o jantar naquele dia do que em discutir realinhamentos.

Nada feito, Rozelle marcou uma reunião para a próxima semana em Nova York, no dia 14 de janeiro. Nenhum acordo naquele primeiro dia. Os representantes das equipes se reuniram novamente no dia seguinte, na quinta-feira, e passaram praticamente o dia inteiro em reunião, mesmo assim não estava nem perto de ter um consenso.

Rozelle, agora frustrado, disse que voltariam na sexta-feira e que teria reunião até descobrir como resolver isso. As equipes estavam decididas a manter as rivalidades, mas não conseguiam encontrar um acordo que fizessem todos felizes.

Vinte minutos depois de chegar a lugar nenhum, Rozelle revelou seu plano. Ele entrou na sala com uma lousa com cinco alinhamentos diferentes para cada uma das divisões. Rozelle estava convencido de que era hora de chegar a um consenso.

Como não concordaram com nenhuma das possibilidades, Rozelle disse “o plano é o seguinte: vou escolher uma dessas opções de dentro de um chapéu, e ficará assim”, e os representantes concordaram com esse procedimento bastante simples para mapear o futuro da liga.

Mas quem iria fazer essa escolha? Em quem todos na sala confiavam que o processo não seria fraudado?

Bem, isso ficou a cargo de Thelma Elkjer, a assistente de longa data de Rozelle. Ela trouxe um vaso de flores transparente e os cinco números dos planos foram escritos em papéis.

E aqui estavam as cinco opções de divisão para o Cowboys:

No. 1: Oeste – Cowboys, Rams, 49ers, Cardinals.

No. 2: Central – Cowboys, Saints, Falcons, Cardinals.

No. 3: Leste – Cowboys, Redskins, Giants, Eagles, Cardinals.

No. 4: Oeste – Cowboys, Rams, 49ers, Saints.

No. 5: Central – Cowboys, Packers, Bears, Cardinals.

Perceberam que havia duas chances de cair no oeste, duas na já extinta divisão central e uma no leste?

Obviamente, o plano 3 era o mais desejável para o Cowboys, permitindo que eles permanecessem na divisão Leste com times que já havia uma rivalidade criada nas primeiras 10 temporadas.

Ainda mais óbvio, o plano que eles mais desprezariam com veemência era o plano 5, o Cowboys ficariam presos na divisão Central com Bears, Packers e Cardinals, todas cidades do norte, e, para ser sincero, o Cowboys tiveram o suficiente do Packers e do clima após o famoso Ice Bowl.

Anos depois, Tex disse: “Digamos que eu estava murmurando comigo mesmo: ‘Por favor, não escolha o número 5.'”

Agora, se você é um apostador, as chances do Cowboys de conseguir o que queriam – plano 3 – não eram boas. Apenas 20% de chance, já que havia apenas uma opção para permanecer na leste.

Bem, exatamente às 10h26 da manhã, após 64 horas de discussões, 41 minutos depois de iniciarem a reunião e mais uma vez não obterem sucesso, enquanto tentavam descobrir um jeito para toda essa coisa de realinhamento, Thelma sem olhar, coloca sua mão no vaso e escolhe.

Plano No. 3 – Cowboys, Giants, Redskins, Eagles, Cardinals na divisão Leste.

Sim, os quatro adversários com os quais o Cowboys haviam passado seis temporadas na conferência Leste da NFL e depois um na divisão Central com Eagles, Redskins e Giants, além de um ano com Redskins, Eagles e Saints. Sendo assim, inimigos bastante familiares.

Com isso, bem-vindos para a nada científica divisão Leste, exatamente onde o Cowboys esteve durante 50 temporadas e nunca deverá sair dela.

No dia seguinte, no Dallas Morning News, o texto era o seguinte: “Os principais proprietários das 13 equipes da NFC não conseguiram resolver seus problemas de realinhamento em mais de oito meses de brincadeiras amargas. Thelma Elkjer levou algo em torno de cinco segundos para resolver as coisas para eles.”

Tex estava indubitavelmente exaltado, citando o seguinte: “Estamos muito, muito satisfeitos. Desde o início, teríamos favorecido permanecer em uma divisão na qual poderíamos manter as rivalidades que criamos desde que entramos na liga em 1960.”

O jornalista Steve Perkins do Dallas Times Herald, que se tornaria editor do Cowboys Weekly, escreveu isso sobre o realinhamento:

“A sorte do sorteio estabeleceu o futuro do Dallas Cowboys em um curso de acerto de contas com Vince Lombardi.”

Para que consigam entender, o ex-treinador do Packers, Vince Lombardi, que derrotou o Cowboys de Tom Landry nas cinco vezes em que se enfrentaram desde que o Cowboys entrou na liga em 1960, inclusive nas finais consecutivas de 1966-67, saiu de sua aposentadoria após um ano para se tornar treinador/gerente geral do Washington Redskins em 1969.

Perkins apontou que o Cowboys venceram o Redskins de Lombardi duas vezes naquele ano, 41-28 e 20-10, com Washington terminando com um recorde de 7 5-2 naquela temporada, o que acabou sendo esse, o primeiro ano com temporada positiva desde 1955, além disso, manteve o recorde de Lombardi de nunca ter tido uma temporada negativa durante seus 10 anos como treinador da NFL.

Mas, como nós sabemos, o Cowboys nunca mais enfrentaria Lombardi, o treinador tricampeão da NFL (antes da fusão), bicampeão do Super Bowl com o Packers e que dá nome ao troféu, faleceu em 3 de setembro de 1970, outro fato histórico que completa 50 anos em 2020.

Cowboys e Redskins em 1971. (Getty Images)

O Cowboys da temporada de 1970 ganhou o primeiro título da NFC East com um recorde de 10-4 e depois venceu Detroit (5-0) e San Francisco (17-10) nos playoffs, vencendo o primeiro campeonato da NFC e finalmente avançando para seu primeiro Super Bowl, apesar de perder para Baltimore, 16-13, no Super Bowl V.

Mas essa derrota, estabeleceu as bases para a próxima temporada, quando finalmente o time conquistou a grande glória do esporte, vencendo Miami por 24-3.

Para que fique registrado, o Cowboys ganhou 20 títulos de divisão de um total de 49 possíveis (nenhum título de divisão concedido na temporada de 1982 que foi encurtada pela greve). Isso é quase o dobro de qualquer outro membro da divisão, com Eagles vencendo 11, com a grande ajuda daqueles quatro seguidos entre 2001-04, Giants 8, Washington 7 e Cardinals 2 (1974-75) antes de se mudar para a NFC West em 2002 .

De fato, o Cowboys venceu sete dos dez primeiros títulos da divisão e 14 dos primeiros 29, de 1970 a 1999 (sem título em 1982). E agora três dos seis últimos, com dois segundos lugares. Isso mostra como temos uma grande hegemonia dentro da divisão.

Por fim, vocês devem concordar que Thelma Elkjer deveria ser a próxima a entrar no Ring of Honor do Cowboys.

O time não poderia ter conquistado o Leste sem ela.

 


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Fonte
Dallascowboys.com

Vinicius Iori

Desde 2006 acompanhando esse time e desde 2017 compartilhando o máximo de informações sobre o Time da América.

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