Opinião

Querem a cabeça do Kellen Moore?

Todos os torcedores do Cowboys acordaram nesta segunda-feira tremendamente frustrados pelo que houve no final da noite de domingo.

A equipe do Dallas Cowboys conseguiu segurar o New Orleans Saints a 266 jardas de ataque, apenas 12 pontos e nenhum touchdown, mas, mesmo assim, perdeu a partida no Superdome.

O ataque comandado pelo coordenador ofensivo Kellen Moore, que estava encantando os torcedores, marcou apenas 10 pontos e literalmente naufragou na Louisiana.

Quando no primeiro grande desafio da temporada a equipe não consegue um resultado e atuação satisfatórios, a cabeça de todos nós fica completamente confusa. O que houve? Seguimos favoritos na divisão? Chegaremos na final da Conferência? Somos pretendentes ao Super Bowl?

Muitas coisas precisam ser ditas.

Vamos esquecer alguns pontos (se é que conseguiremos). É óbvio que não foi fumble do Ezekiel Elliott. É claro que as mesmas faltas assinaladas de Amari Cooper passaram sem flanelas para Michael Thomas. E apenas o sobrenatural explica a forma como o relógio andou na última campanha do primeiro tempo.  Enfim, coisas…

Também é até viável afirmar que a estratégia tradicional da defesa de Rod Marinelli (dobrar, mas não quebrar), apesar de manter o Saints fora da linha de field goal, acabou gastando tempo excessivo (grande sacada de Sean Peyton, alertada no nosso podcast da semana passada). Nesse quesito, por sinal, New Orleans teve muito mais posse de bola, com 36:04 contra apenas 23:56 de Dallas.

Porém, a defesa que, ao fim e ao cabo, segurou o adversário a somente 12 pontos, não pode ser responsabilizada pela derrota.

Contra qualquer equipe da NFL, se conseguirmos limitar o adversário a apenas field goals e menos de 15 pontos, é uma obrigação vencer esta partida.

Na minha opinião, não foi por aí que Dallas perdeu.

E se a defesa não foi a “culpada” pela derrota, certamente temos que olhar a produção ofensiva para encontrar alguma explicação para o fracasso.

Não precisamos de muito tempo para notar que o ataque teve apenas 268 jardas totais, 223 aéreas e 45 corridas.

Além disso, que Ezekiel Elliott, nosso principal running back, correu para apenas 35 jardas em 18 carregadas. Ao mesmo tempo, ele foi o jogador com mais recepções de passes (6 para 30 jardas) e o segundo que teve mais lançamentos em sua direção (7, sendo superado apenas por Amari Cooper, que teve 8 tentativas).

Olhando exclusivamente para esses números, sem muito aprofundamento, observamos que o ataque 2017-18 pré-Amari retornou com força, ou seja, bola na mão ou na direção de Elliott. Dallas colocou o plano de jogo no colo de Zeke e basicamente torceu que ele desse conta do recado.

Mas esse tipo de jogo não funciona contra a maioria dos adversários.

Apesar do touchdown – único da partida – Elliott jogou mal? Olha, bem não foi. E a responsabilidade pela má atuação foi exclusivamente dele? Acredito que não.

Há de ser dito que a mesma linha ofensiva que foi capaz de manter o pass rush adversário longe de Dak Prescott nos jogos anteriores e permitiu, por exemplo, 235 jardas corridas na semana anterior simplesmente não conseguiu dar suporte para o running back estabelecer seu jogo corrido.

E quando Ezekiel Elliott não produz, o Cowboys sente muito. Para se ter uma ideia, Zeke correu para 75 ou mais jardas em 82% de seus jogos. Não há ninguém em atividade na liga que faça perto disso. Nessas partidas, o recorde de Dallas é de 30 vitórias e 6 derrotas. Ao contrário, quando o running back ficou abaixo dessa marca, o Cowboys conseguiu uma única vitória e 7 derrotas.

Seguindo nessa toada, se compararmos a derrota de domingo a anteriores insucessos podemos perceber que essa partida tem muita similitude com aquelas contra o Indianapolis Colts e o Los Angeles Rams.

E, nesses embates, uma mesma estratégia foi utilizada pelo adversário. Em razão da qualidade de seus atletas, as equipes confiaram no seu front seven para parar o jogo corrido ao invés de lotar o box como outros que enfrentam o Cowboys costumam fazer. Com isso, tinham jogadores o suficiente para marcar os wide receivers de Dallas, que, por sinal, estava sem o seu número 2. Ou seja, o foco estava todo voltado a Amari Cooper.

No decorrer da temporada, o Cowboys terá jogos contra equipes tier-1 e situações como essa se repetirão. Ou seja, postulantes à final da conferência terão um ótimo front seven, um pass rush efetivo, um interior de linha pesado e linebackers de qualidade, que, por fim, não precisarão sempre lotar o box e desguarnecer a secundária para parar o jogo corrido.

O problema é a resposta de Dallas a este desafio.

Além de dois turnovers terríveis e de um passe errado de Dak para Randall Cobb aberto na endzone (esses quatro pontos fizeram toda a diferença na partida), a constante exigência de descidas longas e a inabilidade de estabelecer algum jogo aéreo matou completamente o ataque do Cowboys.

No primeiro tempo, como parecendo uma verdadeira teimosia, seguimos um padrão de corrida em praticamente todas as primeiras descidas. Depois de iniciar o jogo com passes nos dois primeiros downs, com ganhos de 7 e 10 jardas, o ataque passou a carregar a bola em sete das oito primeiras descidas. Essas sete corridas foram responsáveis ​​por apenas 18 jardas (2,57 jardas por carregada). Alguém lembrou de Scott Linehan?

Depois de três semanas com uso frequente do play action, com 30 passes completados em 37 tentativas (média de 12,33 jogadas por partida), ou seja, com 81,1% de efetividade para 409 jardas totais e 11,1 por tentativa, o percentual de uso neste domingo baixou. Foram apenas 7 play actions, 20% das jogadas da equipe, com 67 jardas totais e 9,29 por tentativa.

Nunca saberemos se um maior número de play actions seria suficiente para vencer, já que a defesa adversária realmente esteve brilhante. Mas, tentar impor o jogo corrido goela abaixo com certeza não deu certo contra o Colts, contra o Rams e domingo passado, e sua constante insistência foi uma péssima opção.

E, ao menos nos três jogos anteriores desta temporada, a variação de chamadas de ataque e a utilização mais constante do play action (fato tão desejado por todos os torcedores desde 2016) fez Dallas marcar mais de 30 pontos em cada uma das partidas. Ontem, no modo conservador, conseguimos 10 pontos e o fantasma do ataque ineficaz pré-Amari voltou com força total.

Até a partida contra o Saints, o Cowboys tinha acumulado 16 passes para 20 jardas ou mais. No Superdome, foram apenas 2. Sem big-plays ou jogo corrido e derrota na batalha dos turnovers, a equipe não terá vida longa na competição.

O fato de estar fora de casa, o ambiente do estádio, o barulho da torcida, tudo isso dificultou o jogo que Prescott e Moore estavam tentando estabelecer nas partidas anteriores, com muitos no-huddles e jogadas sem permitir uma reorganização defensiva. Mas teremos vários outros embates em estádios hostis e isso faz parte do jogo.

O fato principal é que, em pelo menos três importantes partidas, contra adversários que provavelmente encontraremos adiante se avançarmos aos playoffs, fomos incapazes de dar uma resposta a uma marcação que soube neutralizar nossas principais valências. Para mim, o pecado maior esteve no plano de jogo e na adaptação dele às circunstâncias da partida. E isso aponta diretamente para o coaching staff.

Assim é o esporte. Uma semana depois e a chance real de recuperação se apresenta.

Agora, há de ser dito que o Cowboys não é imbatível e não pertence (ainda) a classe das equipes prontas para ser considerado um postulante certo ao Super Bowl. Nós já dissemos isso aqui.

E a resposta seguirá negativa ao menos enquanto não conseguir adaptar um plano de jogo para vencer as equipes que se apresentarem defensivamente como o Saints no domingo.

Querem a cabeça de Kellen Moore? Eu não (ainda não!). Se dependêssemos do Scott Linehan eu jogaria a toalha hoje mesmo.

Por sorte temos ele. Ele é jovem e aprenderá com o nó tático do Sean Peyton.

Saudações e Go Cowboys.


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Diego Barros

Torcedor do Dallas escondido no velho oeste do Rio Grande do Sul. Veterano na torcida desde a década de 90, louco para recuperar o Lombardi.

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