Opinião

OPINIÃO | 51 por 247

Há 273 dias, a offseason começou. Training camp, há 172.

Mas foi há 3663 dias que os Cowboys tiveram uma das piores derrotas do século: quando o Romo sofreu o fumble no hold do field goal que decidiria a partida.

Lembro de não saber o que falar, de pé, olhando para a TV e revendo o replay. A verdade é que aquela era a minha primeira temporada, e eu não entendia o tamanho daquilo ainda.

Mas, ontem, eu entendia. E se você começou a torcer para os Cowboys esse ano ou em 1960, eu tenho certeza que você vai guardar esse jogo num lugar bem frio do seu coração.

Psicólogos dizem que nossa memória é bem ruim e não pode ser confiável. Aqueles eventos que você considera os melhores da sua vida, talvez não tenham sido tão bom quanto você lembra; assim como aqueles que foram os piores, não devem ter doído tanto.

Essa derrota foi, com certeza, uma dos piores. E, por hoje, ela dói muito.

Dói porque eles lutaram. Lutaram até o fim. E diga o que você quiser sobre Jason Garrett, mas os times dele nunca, nunca vão desistir de uma partida. Não importa o quão difícil esteja, eles sempre vão lutar. E isso me enche de orgulho.

Mas é extremamente difícil ver um passe que nem deveria ter saído da mão do Aaron Rodgers, porque eles já estava quase fora de campo, encontrar as mãos do Jared Cook que estava praticamente tocando a linha branca. Esses é o tipo de recepções que seres humanos não deveriam ter a capacidade de fazer. (De certa forma, hoje eu entendi o que os torcedores dos Patriots sentiram em fevereiro de 2008).

Mas é extremamente difícil, também, se encontrar ajoelhado, de costas, chorando, com as mãos no rosto ou até em outro cômodo por causa de um field goal de 51 jardas que colocaria uma linda temporada pelo ralo. Mas quando aquela bola demora 247 horas para viajar aquelas 51 jardas e, a 10 do Y, ela parece estar indo pra fora, aquelas mesmas pessoas que estavam ajoelhadas, de costas, chorando, com as mãos no rosto ou até em outro cômodo, sente aquele pingo de esperança. E quando essa esperança é tirada de você, é aí que o seu coração quebra em tantos pedaços que as lágrimas aparecem, cadeiras voam e uma dor indiscritível aparece no seu peito.

Durante a tarde toda, fiquei assistindo NFL Network. Uma das perguntas que rolou na mesa foi: “Se os Cowboys perderem, essa temporada será marcada como uma falha?” A resposta mais sensata veio do Kurt Warner que disse alguma coisa do tipo: “Resultados estão sempre alinhados com expectativas. Quando o Romo se machucou, ninguém esperava que os Cowboys teriam o melhor record da NFL. Mas aqui eles estão. Então, não, essa temporada é um sucesso”.

E eu não poderia concordar mais, se você estiver olhando para o futuro dessa franquia. Nós seremos competitivos pelos próximos 10-15 anos com Dak, Zeke e essa OL. Mas o que realmente me machucou foi saber que jogadores que mereciam ir ao Super Bowl, ou pelo menos receber os Falcons, foram privados disso.

Essa é a última temporada do Romo com os Cowboys. Há alguns anos, ele comentou uma rádio que “não faria sentido eu ir para uma cidade, como por exemplo, Seattle, ganhar um Super Bowl lá e voltar para morar em Dallas depois que eu me aposentar. Eu não estaria ajudando a cidade que me acolheu e que eu amo”. Claro que as circunstâncias mudaram desde que ele falou isso, mas eu tenho certeza que ele está tão arrasado quanto qualquer outro jogador. Ele “deu” a sua posição para o bem do time, ele foi um mentor para o Dak e ainda, apesar de ser pouco falado, foi um dos grandes responsáveis pela forma como a defesa vem jogando por ser o scout quarterback.

E seu grande amigo, Witten, também não está ficando mais jovem. Big Wit terá 35 anos, quando a próxima temporada começar. Um dos melhores jogadores da história da NFL e um cara ainda melhor fora do campo. E quando eu digo que ele é um cara melhor do que o jogador que ele é, isso diz muito sobre a personalidade dele.

Não são só esses jogadores que mereciam o título, porque todos deveriam ter saído vitoriosos. Esse é provavelmente o melhor time que eu já vi dos Cowboys. E o Romo sempre falou que não existe aquilo de “ah, ano que vem a gente recomeça da onde nós deixamos”. Isso não existe na NFL. Todo ano é um time novo, desafios novos e jogadores novos.

E isso me parte o coração.

Esse time merecia a vitória.

Rafa Yamamoto

Dono do posto de editor mais bonito do Blue Star Brasil, Rafa Yamamoto é redator e apresenta o Podcast.

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